Vladimir Putin
Guerra: Rússia/Ucrânia
"Permiti-me, homem mal formado, que pelas vossas maldades, vos possa maldizer."
Ricardo III
Vladimir Putin. A idade cronológica. Tinha de ser agora. Esta ofensiva bélica na Ucrânia não podia esperar mais. As cirúrgicas plásticas atrasam o envelhecimento na aparência física, porém não alteram a data de nascimento.
A idade biológica. Tem ar jovial, porém permanece o ano de nascimento inscrito no seu cartão de identificação, mesmo que seja adulterada, é impossível fugir ao desgaste cognitivo, ao "envelhecer" das células e dos elementos constituintes do corpo.
Reza a história que o antigo agente do KGB é o terceiro filho, quando nasceu os seus dois irmãos mais velhos já tinham falecido, à custa de ter sempre vivido como se fosse um agente infiltrado, com os movimentos mais do que planeados com uma supervisão e mediadas de protecção muito profissionais, eliminando cirurgicamente quem pode fazer-lhe sombra ou ser um obstáculo para o êxito dos seus objectivos, chegou aos 69 anos são e salvo.
Até quando? É um prazo difícil de prever. Há quatro opções: (1) é afastado pelo grupo que o suporta. A questão é que os oligarcas devem muito a Putin, foi este que os ajudou a manter e a criar novos multimilionários. E Putin já começou a fazer as suas cobranças, obviamente; (2) À semelhança do que aconteceu a outros tiranos, será montada uma operação de mandado de captura que acabará com o seu "reinado"; (3) Escolher a solução de Hitler, que não acredito; (4) Ficar tudo na mesma: Putin permanece a liderar os destinos da Rússia, seria mais uma guerra em que esteve envolvido e nada de substancialmente punitivo lhe aconteceria.
São várias as personalidades que Vladimir Putin adoptou ao longo dos seus vinte e dois anos de governação. A sua arma sem gatilho foi o Petróleo. Regenerou um país parado com as políticas de Yeltsin, por isso o Petróleo foi muito importante para a melhoria dos seus índices económicos e financeiros para investir não na melhoria de vida dos russos no geral, mas dos grupos de pessoas de sua confiança e úteis para a sua causa e para investir na sua capacidade militar.
A Alemanha foi no jogo e ficou refém do gás natural e do petróleo proveniente da Rússia. O motor da U.E. depende cegamente de Putin. Esta notícia é muito esclarecedora da dependência: "A Alemanha irá enfrentar uma grande recessão, caso haja interrupção das importações de gás e petróleo da Rússia. O aviso é feito pelo Deutsche Bank." O gasoduto Nord Stream I foi uma vitória importante para as ambições de Putin para controlar e fazer depender de si. O antigo Chanceler Schröder teve a devida recompensa pelo estreitamente dos laços entre a Rússia e a Alemanha. A Angel Merkel também confiou no desconhecido e o investimento para o segundo gasoduto ligado às torneiras russas tornou-se uma realidade, apesar de terem cancelado a certificação do Nord Stream II, mais tarde ou mais cedo será retomado o procedimento, uma vez que o investimento alemão foi grande.
Nestes tais vinte anos, a Rússia de Vladimir Putin participou em sete guerras, ei-las: Chechénia (1999); Geórgia (2008); Crimeia (2014); Síria (2015); Azerbaijão e Arménia (2020); Cazaquistão (2022); Ucrânia (2022).
A hipocrisia reinante é o grande mal das nossas sociedades. Quando havia inúmeras viagens de negócios ou grupos de empresários inseridos em visitas oficiais de chefes de Estado rumo à Rússia nada era duvidoso no comportamento e nas atitudes de Vladimir Putin. A comunidade internacional condenava baixinho os sucessivos casos de opressão a todos aqueles que têm opinião contrária, resolvendo quase sempre com prisões inexplicáveis ou com a ajuda para "o eterno descanso".
A Rússia de Putin sempre foi aceite como uma democracia alternativa, se é que isso existe, uma democracia à maneira deles. É um facto que os russos nunca seguiram ideais, sempre seguiram líderes. A história do povo russo está marcada por longos períodos de tempo governados à vez com diferentes ideologias tendo apenas em comum o facto de serem uns prepotentes líderes carismáticos que proporcionaram àquelas gentes um controlo total no modo de pensar e padronizando o viver em sociedade. É um povo que sempre tolerou a tirania durante estes séculos. É o modo muito russo de viver. Têm poucas liberdades de escolha e opinião e não pretendem ser salvos deste modo de viver resignado. Há uns anos numa situação que não vem ao caso, alguém confidenciou-me que para nós europeus que vivemos (e nascemos na democracia, mesmo com defeitos é uma democracia) as pessoas que vivem oprimidas por regimes controladores, perante a opção de escolha entre a liberdade e o pão, escolhem sempre o pão. Temos de saber respeitar. Porém, quando este "modo de viver" quer ditar regras, a tolerância acaba radicalmente para pessoas que vivem num Estado de direito.
Foi preciso chegar a 2022 para começar o "disparo" de adjectivos a (des)qualificar um homem que sempre foi este que agora dizem que é: desrespeitador, ditador, tirano, vil, calculista, manipulador, cínico, mentiroso, narcisista, é tudo isto e muito mais.
Vladimir Putin é um profissional da propaganda, nada foi e é ao acaso: sabe o que diz, como diz ou como se apresenta. Mais, acha que sabe tudo e sempre teve a convicção que iria moldar a realidade para a enquadrar na teoria fabricada. Exemplo disto é a dissertação que escreveu (escreveram?!) sobre a Ucrânia nunca ter existido enquanto país independente e da forma depreciativa como apelida os ucranianos: "os russos pequenos." O lema é: inferiorizar para subjugar.
É complicado perceber e traçar um perfil psicológico de uma pessoa com os traços psicológicos de alguém como Vladimir Putin. Não sei os traumas que assombram a sua mente, todavia é inegável que é um ser implacável. Sendo certo que quanto mais implacável se é maiores são os seus "demónios interiores". Pessoas assim, são perigosas pois não olham a meios para atingir os fins.
Vladimir Putin é o sofista grego Cálicles do século XXI. As ideias políticas deste sofista baseavam-se na defesa da tirania. Defendia que a essência do homem está na procura do poder e do prazer, ou seja, que o homem só está totalmente realizado quando consegue o máximo de poder e prazer, denominado, segundo Cálicles de tirano. Sendo que o regime mais em conformidade com a condição humana é a tirania, a desigualdade. Em síntese, este sofista acreditava que todo e qualquer homem é um tirano em potência. Contudo "uns são fortes, conseguem realizar a sua natureza; outros, a grande massa dos fracos inventam leis, valores e costumes democráticos e igualitários para tentar convencer os fortes de que todos são iguais e que as desigualdades são injustas.
Não deixa de ter alguma razão. É preciso é fazer a leitura antecipada para se tomar medidas para afastar estes Cálicles do poder. Não se trata de ingerência, mas quando praticam atrocidades contra a humanidade em solo alheio que influênciam a estrutura organizativa e o bem-estar de outros países que não têm outro remédio que é abrir os braços para quem quer viver e quer fugir da morte imposta por alguém ou por aqueles que estão sentados nos cadeirões do poder que assinam mortes de civis inocentes por decreto.
A política não vive de "ses", mas se os tribunais internacionais, as Nações Unidas tivessem funcionado aquando da participação da Rússia na guerra civil da Síria, isto é, tivesse sido formalizado as queixas por crimes de guerra pela destruição maciça, pelo massacre de pessoas que o exército russo a mando de Putin praticou em Alepo, se calhar hoje a invasão da Ucrânia não teria acontecido.
São suposições. São os tais "ses".
O que é verdade é que ficou por julgar os crimes na guerra civil Síria e fazer-se justiça pelo povo sírio.
Se ontem já era tarde, hoje é tardíssimo. Porém, eu acho que ainda vamos a tempo de se fazer justiça nos locais próprios que são os tribunais.
Desta feita, Vladimir Putin teria os dias contados no Kremlin.
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Os actores do ontem que são a influência do hoje