Rescaldo das eleições Madeira 2023: laranja sem sumo
"(...) o incompreensível pode ser desprezado, mas nunca será se houver maneira de o usarem como pretexto."
José Saramago, Ensaio sobre a lucidez
O António Costa nem tem mãos a medir, sabendo que os madeirenses gostam mais de laranjas do que de rosas, não se empenhou nada na campanha eleitoral. Se o Cafôfo não conseguiu que se apaixonassem pelas rosas, não era o desbotado Sérgio Gonçalves que iria manter o bom resultado das últimas eleições regionais. O Partido Socialista perdeu oito deputados. Foram "encontrados" pelo Bloco de Esquerda, PAN e Juntos pelo Povo. O Chega elegeu quatro deputados. A Coligação PSD/CDS deixou cair um deputado no cesto da IL. Então não é que em vez de irem resgatar o seu deputado caído no cesto liberal, o Albuquerque montou uma operação de resgate e salvamento ao deputado ganho pelo Partido dos Animais e Natureza! Escusam de vir com a lengalenga fastidiosa que é um "resgate" atípico. Ó meus ricos amigos, as laranjeiras plantam-se na natureza. Assim sendo está aqui uma boa aliança para conseguir a tão esperada maioria parlamentar do PSD/CDS à custa da Natureza, ou seja, do PAN. Esta IL quer deixar de comer laranjas, as 20 pastilhas efervescentes de vitamina C do supermercado estão mais baratas do que comprar um quilo de laranjas. Por isso, cada um e cada qual respeitaram-se e principalmente não desvirtuaram as ideologias que defendem com unhas e dentes em momentos de aperto. Lá estou eu a seguir os trocadilhos linguísticos que o Miguel Albuquerque usou no seu discurso de vitória.
Não percebi o seu entusiasmo com voz gritada. O maior derrotado da noite foi o Excelso Albuquerque. Em 2019, não conseguiu governar sozinho teve de pedir ajuda ao CDS. Volvidos quatro anos, apresentou-se coligado e mesmo assim não conseguiu a maioria dos votos. O que adianta ganhar em todas as freguesias se não conquistou a maioria absoluta? Sim, foi a grande desilusão da noite eleitoral.
(Parecia o PCP nacional, onde nunca sai derrotado em nenhuma eleição a que se candidata.)
Não sei se já o avisaram, vai ter de cavar bem a caldeira da laranjeira plantada no quintal do PAN para reter a água. Se assim não acontecer há perigo de as laranjas crescerem secas, impossibilitando servir sumo com vitamina C aquando da discussão e viabilização do orçamento regional do Estado.
Naturalmente, tal como a derrota do PS no arquipélago com as mais lindas madressilvas, não se fizeram esperar os barulhos de escorregadelas nas laranjas usadas para fazer o sumo. Inclusive do próprio partido que aceitou beber sumo de laranja a todas as refeições.
Os membros dos partidos "baptizados" com substantivos formais e abstratos que significam tudo e nada costumam fazer as suas birras de rejeitados em horário nobre, o que estariam à espera de um partido que concentra no nome as palavras: Pessoas, Animais e Natureza? Obviamente, confusão e existência de momentos intensos em busca de algum protagonismo pessoal quando se tem um microfone à frente da boca.
Ia beber um sumo de laranja natural, mas lembrei-me que não tenho laranjas na fruteira, apenas tenho limões. O que acham de eu pintar o limão de laranja? Ficava um sumo de laranja azeda e enviava por CTT registado ao Luís Montenegro, o moçoilo no domingo eleitoral transpirava em bica, fiquei preocupada se não teria ficado desidratado. Isto de estar na liça é mais complicado e diferente do que estar a passar nos bastidores da oposição no partido rasteiras ao seu antecessor Rui Rio.
Verdade seja dita, os ares da Madeira fazem bem ao Luís Montenegrino, se assim não fosse não tinha dito a frase mágica: nunca irá fazer coligações ou acordos parlamentares com o Chega. Se o quiserem ver como primeiro-ministro, os laranjinhas zangados que votam no partido do Ventura terão de voltar a colocar a cruz no quadrado às escondidas, para tal deverão tapar com o lenço o símbolo do PSD no boletim de voto.
Comecei estas linhas a frisar que o António Costa não tinha mãos a medir, porém ao entrelaçar outros assuntos foi ficando para trás esta ponta solta. E que ponta solta. O secretário geral do Partido Socialista ensinou Mário Centeno a ser político e agora está a tentar passar a perna ao seu professor, para além de lhe ter oferecido como prenda a função de governador do Banco de Portugal. António Costa ambiciona ir para a U.E. e agora tem um concorrente com aspirações em ocupar um lugar europeu. Há a ideia disseminada do interesse de Mário Centeno querer ser Presidente da República. Não concordo. A Europa é o seu sonho. O antigo ministro das finanças está usar habilmente (ilegitimamente) a posição privilegiada que ocupa para fazer campanha de promoção da sua imagem para ser "seleccionável para o clube europeu" através das várias entrevistas e participações em conferências onde tem dado o ar da sua graça. Esta actuação refinada apanhou desprevenido o seu professor. A Madeira sempre esteve perdida, os esforços tinha e têm de ser para a conquista de um cargo na União Europeia, com este opositor empenhado em fundir as suas capacidades técnicas com a ciência política torna mais difícil a realização do sonho europeu para o Primeiro-Ministro António Costa. Uma vez que sabe que entre eles os dois é mais fácil o Mário Centeno ir trabalhar para Bruxelas e ele ficar por Lisboa à espera de uma oportunidade como a que o Ferro Rodrigues teve. Tantas vezes que passa a perna a todos os que o ajudam a perpetuar-se na política, vai chegar o dia onde ele irá tropeçar na sua própria perna. Se é que não tropeçou já e está a tentar esconder os joelhos em carne viva.
Beber sumo de laranja faz bem, é só ver a felicidade dos nossos madeirenses. As flores são para embelezar, a vitamina c é o motor desde sempre de um arquipélago que sempre quis ser as ilhas Virgens Britânicas. O Partido da Rosa está à espera que a laranja azede de vez, vai ser um carnaval quando tal suceder.
Se eu tivesse laranjas fazia sumo de laranja, fiquei com a boca seca de pensar na tal possibilidade. Os madeirenses merecem mais e melhor, o Partido Socialista não serve para desenvolver económica, financeira e humanamente um país.