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Perspectivas & Olhares na planície

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Primeiro debate: Trump Vs Biden

Vi o primeiro debate entre Donald Trump e Joe Biden. Quem ganhou? Quem perdeu? Ganharam os dois e perderam os dois. Impossível? Nada disso. Cada um à sua maneira teve pequenas vitórias e pequenas derrotas durante o "combate." O maior derrotado na noite foi o moderador: tornou o debate aborrecido, confuso e sem conteúdo. É um facto que os adversários à conquista de uma estada na Casa Branca não são de qualidade, porém deixou o Trump fazer o seu Stand up Comedy habitual e deixou o Joe Biden tentar ser o One Man Show de um boteco de quinta categoria. 

[Que coisa mais chata o moderador  Cris Wallace quando se dirigia a Joe Biden trata-lo por Vice-presidente! Já foi, não é. Ocupamos cargos, não somos os cargos.]

O Trump foi fiel à sua maneira de estar: as suas decisões são fabulosas, é tudo incrível,  extraordinário e fantástico desde que governa os destinos dos Estados Unidos da América. Se consegue ter comícios — ao ar livre  como sublinhou várias vezes — com plateias enormes é porque o querem ouvir e se o Biden mobiliza pouca  gente é porque não querem saber dele para nada. Ainda não suou que os seus milhares de apoiantes que o seguem estejam infectados com Covid-19¹. Gere impecavelmente a pandemia fechou quando tinha de fechar a economia e agora já não dá para fechar a América.  Todos usamos máscara, admite que também a usa quando assim se justifica (tirou do bolso interior do casaco a  dita cuja). Não entra no exagero, com o humor disparatado dele, refere que o Biden usa uma máscara estupidamente enorme mesmo distante das pessoas.  A puxar dos galões disse que o exército está fantástico e todos gostam dele, disse que conseguiu reparar a confusão que o Biden deixou e ninguém se lembra dele. O obamacare nunca prestou e foi ele que negociou com as farmacêuticas a diminuição dos preços dos medicamentos: se a insulina está ao preço da água é graças a si. Se aumentou a criminalidade, a violência racial foi nos estados ou cidades onde governam os democratas. Provocou de forma indirecta chamou-lhe ignorante, burro por ser um aluno fraquinho na universidade; como homem de família se assume: arrasta-os para onde esteja, chamou o muito suspeito filho de Biden para ajudar o pai dele a perder votos. Quando foi questionado sobre os baixos impostos que paga ou pagou a justificação é verdadeira: paga os impostos de acordo com as incongruências da legislação que o Biden conhece e aprovou. Chegado o tema do momento falou das alterações climáticas mas que é para ir com calma, e que por exemplo os incêndios que têm destruído a Califórnia, a solução passa por existir uma melhor gestão da floresta.

Por sua vez, Joe Biden surpreendeu-me pela negativa. Jogou o jogo do insulto gratuito do seu adversário: mandou-o calar (assumiu a função do moderador que "andava aos papéis"), chamou o Trump de ignorante, racista, mentiroso e palhaço! Olhando fixamente para a câmara lá ia tentando (quando não era interrompido pelo seu colega de debate) que quer estar ao lado da população  pobre  americana (com a voz para se fazer ouvir o Donald disse: então em quarenta e sete anos na política podia já ter tomado essa medida), ressuscitar o obamacare, aumentar os impostos para as empresas (ouvia-se a voz do Trump: as empresas assim vão-se embora); insurgiu-se na forma como Trump enfrentou e enfrenta a grave crise sanitária (surge ao longe a voz: fui fabuloso e não quero a economia fechada). O clima de confrontos racial em que vive a América é culpa deste Presidente e que com ele vai ser tudo diferente. Vai voltar ao tratado de Paris e diminuir os efeitos das alterações climáticas, dizia que há cada vez mais furacões, diminuir as grandes fontes de poluição que aumenta o aquecimento global (gritava ao mesmo tempo o seu adversário: então e as vacas são para acabar? Elas são uma das grandes fontes de poluição climática).

Joe Biden não teve argumentos interessantes, foi muito elementar nas respostas às questões do moderador, só repetia que  o Trump não tem planos, não há planos!

Num debate sinistro quando havia silêncio em que se ouvia apenas a pergunta extensa do jornalista: Donald Trump estava com a postura facial das bonecas insufláveis enquanto que o Joe Biden fechava os olhos recorrentemente (abria-os, fechado-os logo de seguida, quando o Trump interrompia o entediante Cris Wallace).

Dizem que foi o pior debate de sempre na corrida à Casa Branca. Mas queriam o quê? Com dois candidatos que deveriam estar sentados de pantufas a ver a série da Netflix: "The Kominsky Method".

 

Os dois ganharam e os dois perderam, simultaneamente. 

O Donald Trump ganhou porque dominou todos os tempos do debate: interrompeu quando lhe apeteceu sem ter ninguém que impedisse as suas pirraças.  Insolente, prepotente, convencido e provocador. Portanto, foi ele sem tirar nem por. Mas também saiu com a derrota na mão: provocou e quando foi provocado, veio a sua declaração de impostos à discussão, ripostou com o argumento dos quarenta e sete anos de Biden na política activa, para além de ter desenterrado os suspeitos negócios do filho Hunter Biden  (para não dizerem que é só a Família Trump que está envolvida em polémicas). 

O Joe Biden conseguiu a dobradinha também: a vitória e a derrota. Fez tudo para sair vencido:  trocou várias palavras, usou excessivamente a "bengala" no plans fazendo passar a ideia que não estava preparado para aquelas perguntas e quando finalmente recuperava o poder de argumentação não ia  além de um conjunto de banalidades. Perdeu a paciência não resistiu às palavras ofensivas para não ser ofuscado no debate. Não sei se foi a sonolência que atrapalhou o seu desempenho ou simplesmente é a crua realidade: a experiência política de alguém com 77 anos não consegue sobrepor-se à exigência física e cognitiva que são necessárias para a exigente campanha eleitoral de um país como os EUA. O momento onde saiu vencedor foi quando criticou Trump por não apresentar a declaração de impostos e do que se sabe, paga muito pouco. Ao ataque à idoneidade do filho não escondeu o passado dele e lembrou-o que um dos seus filhos, o falecido Beau Biden, foi um reconhecido militar. 

Empate não existiu. Podia ter acontecido. Porém, com Donald Trump e Joe Biden não há isso de empates.  Empatas sim, foram os dois.

Com o primeiro debate conclui-se que: o Joe Biden é o isco para os democratas ganharem a presidência dos Estados Unidos da América para depois entregar de bandeja à Senhora Kamala. 

"(...) tinha duas coisas atrás do balcão, para o ajudarem a resolver discussões entre clientes: um bastão e um dicionário. O meu melhor amigo, dizia-me, é o dicionário – e é também o meu hoje".² O moderador Cris Wallace deveria ter levado o dicionário para o debate... 

 

 

 

 

 

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¹ Donald Trump anunciou que estava positivo à Covid 19 dias depois do debate;

²Philip Roth, A Mancha Humana 

 

 

 

 

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