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Perspectivas & Olhares na planície

Perspectivas & Olhares na planície

P&O na Planície: Bom Fim de Semana 40

Post em falta: tardou, mas ao menos chegou :)

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P&O na Planície: Bom Fim de Semana 40 = As nossas vidas não teriam o mesmo brilho de um dia soalheiro de verão na Amareleja – daqueles dias em que o sol é tão abrasador que não se vê vivalma para trocar três dedos de conversa depois do almoço –, se não existissem as palavras “sinceras” dos nossos mui nobres representantes da Nação Portuguesa: António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa.

Tenho uma confissão a fazer: sentia-me triste e não percebia a razão para o meu estado de tristeza. E de repente fez-se luz e entendi: não tinha ouvido ou lido as mensagens de Natal e Ano Novo do nosso Primeiro-Ministro e Presidente da República, respectivamente. Como é  que eu não dei logo com esta falha? Andei triste tantos dias sem necessidade nenhuma. Logo que cheguei a casa tratei de ser feliz como se não houvesse amanhã: fui ler as mensagens inspiradoras do nosso Primeiro e do nosso Presidente.

 

Ora então debrucemo-nos no que disse o António Costa: a sua mensagem de natal foi directa e egocêntrica, pois  sem rodeios multiplicou-se em auto-elogios da sua governança sem esquecer a parte de demonstrar que tem coração e que se preocupa com os portugueses. Como já todos percebemos não tem paciência para grandes salamaleques deve ser fruto da sua insegura e deficiente dicção; se o texto tivesse o tamanho da Muralha da China em  trocadilhos e frases floreadas às tantas  nem o próprio António Costa conseguiria perceber o que estaria a dizer,  porque os portugueses não contam, dado que andamos sempre à nora para decifrar as “palavras comidas” quando se predispõe a falar connosco sem que seja solicitado para tal, porém quando é questionado pelo cidadão responde não respondendo.

Voltando à sua mensagem de Natal:  desejou aos portugueses aqui e além-mar um Feliz Natal (agradecimento atrasado, todavia,  mais tarde do que nunca: muito agradecida pelos seus votos, Primeiro-Ministro António Costa); e apresentou-nos a sua grande e enorme paixão para 2020: o Serviço Nacional de Saúde. Paixão muito oportuna com a chegada da Senhora Gripe e a prever-se o caos nas Urgências Hospitalares Públicas recorreu ao sentimentalismo baratucho (cidadãos sem médico de família, o flagelo das listas de espera para consultas e cirurgias) para comover os corações frágeis daqueles que estão a viver ou a conviver com problemas de saúde. Está mesmo apaixonado o Senhor pelo SNS, se dúvidas houvesse ficaram dissipadas: como todos os apaixonados cometeu a loucura de  percorrer uns escassos quilómetros, foi à recente Unidade de Saúde  Familiar do Areeiro, para estar cinco minutos   e quinze segundos com a sua paixão (duração do vídeo). No meio daquele rol de promessas para o português ouvir como música de embalar, oops compromissos bonitos e precisos. Contudo, se um se cumprir já não é mau de todo (extinção faseada das taxas moderadoras nos cuidados primários e nos tratamentos prescritos via SNS, contratação de 8.400 profissionais de saúde, pagamentos de incentivos para diminuir as listas de espera nas cirurgias e nas consultas de especialidade, melhoria do equipamentos e infraestruturas de saúde…). Também houve tempo para as verdades de La Palice: “a crónica suborçamentação e o contínuo endividamento dos serviços de saúde".  Estava a gostar de ouvir o António Costa, apesar de saber que estava a vender-me sonhos, quando começou a descambar ao trocar de paixão, passou para a paixão obsessiva pela propaganda (e gabarolice): “Como sabem, ao longo dos últimos quatro anos, recuperámos a dotação orçamental do SNS, admitimos mais 15 mil profissionais, e aumentámos o número de consultas e intervenções cirúrgicas realizadas. Mas sabemos bem que não é suficiente e que temos o dever de fazer mais e melhor".

Há um momento na mensagem em que ouvi o som das harpas dos anjos e quase que chorei quando o nosso Primeiro disse:   “Compreendo bem a ansiedade daqueles que ainda não têm médico de família, que aguardam numa urgência ou que esperam ser chamados para um exame, uma consulta ou uma cirurgia" Compreende? Como assim, não tem médico de família? E por acaso quando teve a tal crise de ciática ficou esquecido numa maca horas a fio no corredor do hospital à espera que fosse observado e consequente administração do tratamento adequado? Não, por isso não compreende  nada, porque não é um de nós, é alguém privilegiado e que deve ter decoro nas palavras quando tenta ser um simples cidadão.

As paixões são intensas e assim como aparecem, desaparecem no segundo seguinte. Há casos de paixões que se transformam em amores sólidos, no entanto, não são o caso na política. O António Costa ao virar costas ao edifício da Unidade Familiar de Saúde a paixão pelo SNS era já passado e outra paixão estará certamente no forno, quiçá pela Segurança Social (os atrasos nas atribuições de prestações contributivas são inqualificáveis e inadmissíveis).

Assim, com o seu estilo discursivo em constante campanha eleitoral, António Costa continua firme e seguro à frente do destino político de Portugal e pergunto até quando?

 

Fiquei um pouco mais feliz. Mas, não completamente feliz. Para ficar (e não estar) nos píncaros da felicidade falta ouvir a Mensagem de Ano Novo de Marcelo Rebelo de Sousa. Então vamos lá tocar no cume da felicidade: o nosso Presidente, a partir da ilha do Corvo,  brindou-nos  com oito minutos e treze segundos de pura demagogia melosa  na tentativa de fazer chorar as pedras da calçada com a poética sequência com a palavra longe: “Longe, porque por esse universo fora ainda sentem que nem sempre são lembrados. Longe, porque ficaram…” Foi pena não ter incluído neste parágrafo o ditado: “longe da vista, longe do coração”.

Sem surpresa relembrou que Portugal precisa da Europa unida  (somos uns dependentes  dos envelopes financeiros para que haja alguma modernização das infraestruturas primárias e equipamentos básicos) e essencialmente anseia que a Europa consiga marcar a agenda mediática e não ande a reboque dos acontecimentos (guerras comerciais, resolver a questão dos migrantes…) Todavia, este repto nem foi ouvido pelos nossos governantes…

Domesticamente, Marcelo quer um ano 2020 calmo, sem manobras perigosas (aviso entrelinhas: cuidado com a regionalização encapotada)  para que não dê lugar a  uma crise política que origine novas eleições legislativas;  para assim continuar a fazer as suas viagens oficiais, abrir o palácio para condecorar a milésima pessoa ligada ao futebol e aparecer sem olheiras nas selfies: ”Governo forte, concretizador e dialogante, para corresponder à vontade popular, que escolheu continuar o mesmo caminho mas sem maioria absoluta, oposição também forte e alternativa ao Governo, capacidade de entendimento entre partidos quando o interesse nacional o assim exija (...)”.

 

Sabemos que é um Presidente com muita esperança. Só que aos chefes de estado não se lhes pede para primeiro esperançar e depois tentar resolver os nossos problemas estruturais crónicos (justiça desacreditada e morosa, descontrolo na fiscalização da corrupção, a tendência antiga de o poder local ter mais competências sem existir a devida auscultação dos portugueses, coesão social de fachada….). Pelo contrário. Fazer, resolver, antever isso de esperançar é para os teóricos.  

No alto do seu desgastante sentido paternalista teórico em que nunca conseguiu um cargo político executivo de relevo pede que: “olhando à escassez de recursos, prioridades a determinar, concentremo-nos, em 2020, na saúde, na segurança, na coesão e inclusão, no conhecimento e no investimento”. Nada a dizer, só que devia chatear o Primeiro-Ministro três vezes ao dia com esta ladainha. Não eu que votei, e não foi para este Primeiro-Ministro.  

Sempre muito cuidadoso informou-nos que:

1 - assumiremos a Presidência do Conselho Europeu no primeiro trimestre de 2021;

2 - organizaremos a Conferência Mundial dos Oceanos que as Nações Unidas;
3 - em 2020 passam “dois séculos sobre a Revolução que marcou o início da passagem da Monarquia Absoluta para a Monarquia Liberal”.

O Presidente Marcelo termina a sua mensagem com esta frase: “Nós, portugueses, nunca, mas nunca desistimos de Portugal”. Simpatizo com esta frase por ser verdade,  no entanto, devo lembrar o Presidente da República que também é verdade que quem sempre desistiu de Portugal foram os sucessivos governantes que dirigiram o rumo de Portugal para caminhos em prol dos seus próprios interesses. (Quase que me esquecia:  agradeço  os seus votos de Bom Ano 2020, Presidente Marcelo).

 

Ouvidas as mensagens impulsionadas  pelas circunstâncias das palavras e pelas palavras de circunstância vaticinarei que em 2020 Portugal estará ou melhor continuará em ruínas.

Desafortunada e injustamente, Portugal e a vida dos portugueses parecerão uma casa em ruínas.

 

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