P&O na Planície: Bom Fim de Semana 100
P&O na Planície: Bom Fim de Semana 100 = Acepipes de gafanhotos, arroz com larvas, saladinha de rúcula e grilos, strogonoff de besouros vão ser uma realidade nas ementas de qualquer restaurante em Portugal. Agora se encontrar uma larva na salada não vale a pena pedir o livro de reclamações.
A Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) autorizou ao abrigo do "Regulamento Europeu para Novos Alimentos" a colocação no mercado de forma transitória de alguns insetos. Ora que insectos serão? Ora então legalizaram: dois tipos de grilos, dois tipos de larvas, dois tipos de gafanhotos e um besouro. E as formigas, pergunto eu, continuam ilegais? Ganharam a carta de alforria, por exemplo, o gafalhoto migratório, a larva da farinha, o grilo doméstico e a trabalhadora formiga? Está a sofrer de discriminação, não é justo! Não basta a cigarra ser sua bully ainda é esquecida pelas autoridades de alimentação e veterinária.
Os pratos exóticos abrilhantados com os insectos legais para serem comidos ao almoço – é melhor ao almoço, pois se tivermos um distúrbio alimentar é sempre melhor ir para o hospital de dia do que ir de madrugada, onde todos os gatos são pardos – não seja preciso pedir um empréstimo à cofidis para pagar a refeição. A julgar pelo que têm de pagar os coitados dos turistas que visitam a Madeira pela fruta exótica ainda por cima armadilhada de açúcar, não prevejo que uma almôndega de besouros deverá custar menos do que o caviar de esturjão albino branco; tenho o enorme prazer de informar que este caviar pode custar a módica quantidade de 100 mil euros por quilo.
Se o "novo" pobre de Portugal que vive à custa dos filhos que foi de férias a tiracolo para a Sardenha — onde os filhos iriam buscar os milhões para bancar os vícios de primeira necessidade dos pais? – que só lhe falta pedir o atestado de pobreza não pode dar-se a estes luxos gastronómicos, imaginem a maioria dos portugueses, apesar de os dias de cada mês manterem-se inalteráveis, cada vez mais falta salário e vão sobrando dias do mês.
Isto é muito simples: se um grilo aterrar na sopa não adianta pedir o livro de reclamações, agora continua a ser ilegal encontrar uma mosca pousada que entretanto morreu com a emoção da degustação de uma bela carne de porco à alentejana; Será caso para sacar da caneta para escrever os impropérios adequados pela ausência de higiene e exposição à insegurança alimentar que pode culminar numa gastroenterite grave. Quem não viu moscas a nadar mais do que cinco minutos no belo molho das sopas de cação, levante o polegar direito. E as desculpas que se inventam; utilizo às vezes a de estar enfartada justificando que desconheço a causa de tal, por não me apetecer escrever a reclamação a exigir tratamento especial para as moscas que aparecem sem convite e que ainda por cima não pagam a conta. As moscas causam-me repulsa.
Isto de já não ser preciso viajar para países onde comer estes bichinhos e outros da família é uma tradição mais velha do que a amizade entre o Ricardo Salgado e o Marcelo Rebelo de Sousa começa a tornar Portugal e a Europa zonas "não amigas" dos insectos. O PAN estará atento à problemática? No fundo do meu coração, torço para que sim!
Boas notícias para quem queira provar, que não é o meu caso, estão à venda em alguns supermercados Continente: barras proteicas à base de farinha de insecto, snacks de insetos desidratados (temperados com pimenta cayenne ou sal marinho, por 4,55€); e a farinha de inseto feita a partir do tenébrio (9,95€ por um saco de 100 gramas).
A Portugal Bugs é a produtora desta especialidade de produtos alimentares feitos de ou com insectos.
Li que a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) defende que comer este tipo de insectos aprovados em Portugal "são nutritivos, com altos níveis de proteínas, gordura e minerais, além de ser baixo o risco de transmitirem doenças de origem animal, como a gripe das aves ou a doença das vacas loucas." Porém, não me conseguem convencer verdadeiramente.
Eu o máximo que consigo comer são as formigas. Então não me recriminem, se faz favor. Sei que estou a cometer uma ilegalidade. Mas confessem lá, de forma despercebida, não "marchou" uma formiguita ou outra. São tão pequenas e chatas que acho impossível não terem comido. No Verão figos esquecidos em locais propensos às excursões delas, a "gente" bem tenta "sacudir" o figo, mas fica sempre uma escondida e sujeita a ser trincada sem honra e nem glória.
As amigalhaças formigas devem ter uma boa visão, vêem tudo, até açucareiros! Houve tempos em que tinha de colocar o dito cujo no frigorífico para livrar o açúcar da perseguição feroz das formigas. São umas autênticas stalkers. Será desnecessário dizer que o café das cinco (não sou grande apaixonada por chá) por vezes era adoçado com açúcar e uma formiga ou outra, que entretanto jaziam com uma valente hiperglicemia. Por mais minuciosa que seja a caça à formiga, há sempre alguma que escapa.
Com a azáfama de autorizar a entrada de muitos insectos para a nossa dieta alimentar espero que a vaca-loura não seja transformada em barrinhas energéticas para comermos nos intervalos das principais refeições. Pois diziam as pessoas do antigamente que a vaca-loura é enviada de Deus, por isso, que não a devemos matar. Ainda avisavam com cautela as crianças com sadismo nos pés, se matassem as vaquinhas-louras que "Deus mordia na língua."
Não era desaconselhado, antes de promoverem insectos a alimento do ser humano, fossem pesquisar a sabedoria popular para não causar desassossego inconveniente, quiçá desrespeitoso, aos crentes de algumas tradições profanas ou sagradas.