Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Perspectivas & Olhares na planície

Perspectivas & Olhares na planície

P&O do Passado VI

“(…)Língua3 aos teus esquecida”: no passado a língua espanhola era a grande ameaça à Língua Portuguesa, porém sobreviveu. Presentemente, o novo acordo ortográfico revela-se como a maior prova de fogo que a nossa Língua Portuguesa tem encarado. Será que vai vencer a guerra? Pois, a batalha – com acordo ortográfico aplicado –, já a perdeu…

 

A defesa da Língua Portuguesa (Ode I)

 

Fuja daqui odioso

Profano vulgo1, eu canto

As brandas Musas, a uns espritos dados

Dos Céus ao novo canto

Heróico, e generoso

 

Nunca ouvido dos nossos bons passados.

Neste sejam cantados

Altos Reis, altos feitos,

Costuma-se este ar à Lira2 nova.

Acendei vossos peitos,

Engenhos bem criados.

Do fogo, que o Mundo outra vez renova.

Cada um faça alta prova

De seu esprito em tantas

Portuguesas conquistas, e vitórias,

De que ledo te espantas,

Oceano, e dás por nova

Do Mundo ao mesmo Mundo altas histórias.

Renova mil memórias

Língua3 aos teus esquecida,

Ou por falta de amor ou falta de arte,

Sê para sempre lida

Nas Portuguesas glórias,

Que em ti a Apolo honra darão, e a Marte.

A mim pequena parte

Cabe inda do alto lume

Igual ao canto, o brando Amor só sigo

Levado do costume.

Mas inda em alguma parte,

Ah Ferreira, dirão, da língua amigo!

           António Ferreira

 

  1. 1. é a tradução do 1.º verso da Ode 1.ª, liv. 3.º de Horácio: “odi profanum vulgus”; É a poesia italiana, o “dolce stil nuovo”; 3. A. Ferreira defende o uso da língua, num tempo em que o português e o espanhol tinham direitos iguais.