P&O: Citações Soltas # 7: Setembro
" (...) A gravata de ramagens desembrulhou um novo rebuçado num gigantesco ruído de papel idêntico à crepitação da caruma, e o odor de eucalipto regressou, mais forte, e com ele o cheiro atenuado e leve do equinócio de Setembro, delicado como um desenho à pena japonês.
O equinócio de Setembro faz- me lembrar os cães das praias, oxidados do outono, a trotarem pela areia deserta em manadas cabisbaixas, lambendo as algas, os pedaços de madeira, os desperdícios que as ondas devolvem e recusam, fragmentos de pano, bichos, conchas. Os cães lambem as algas e os desperdícios, roçam uns nos outros os flancos magros salpicados de crostas de feridas, os banheiros recolhem os últimos toldos que ninguém usou, a água possui, a tonalidade rósea de um dorso de criança, a respirar a medo nos limos da muralha."
António Lobo Antunes, Conhecimento do Inferno