Perguntar não ofende...
G. Pesce – Ponto de Interrogação, 1996
O Presidente da Câmara Municipal de Serpa resolveu empregar mais funcionários para varrer as ruas de Serpa, achou e mal que a equipa escalada para a limpeza das ruas é pequena; na realidade existe é uma péssima organização dos recursos humanos, o que origina um natural sub-rendimento.
Este sub-rendimento tem uma razão de ser: os funcionários do quadro habituaram-se a trabalhar pouco e as ruas em que estivesse um café é que “varruscavam”, e mais, encostavam-se aos cidadãos que estavam no programa ocupacional, em virtude de estarem a receber o subsídio de desemprego, que para o qual descontaram, e estes beneficiários que fizessem o trabalho daquele funcionário que se encontra por tempo indeterminado na Câmara Municipal de Serpa. Supostamente no acordo de atividade ocupacional fazia referência que o primeiro outorgante, neste caso o Município de Serpa, não podia obrigar o segundo outorgante, ou seja, o desempregado subsidiado ocupado como é designado por eles, o desempenho de tarefas que não integrem na atividade ocupacional aprovado, nem a ocupação consistir no preenchimento de postos de trabalho existentes (cláusula 1ª ponto 2.). Nada mais erróneo, para quem recebe prestações não contributivas, como é o caso do rendimento social de inserção, devem sim trabalhar obrigatoriamente no Estado, até porque a atribuição deste apoio foi completamente desvirtuado e subvertida a sua génese. Já os desempregados com os subsídios contributivos, vulgo subsídio de desemprego, não deviam ser obrigados a frequentar estes géneros de programas ocupacionais, uma vez que as câmaras e outros organismos públicos aproveitam-se indignamente destes desempregados pagando-lhes apenas o subsídio de almoço e mais nenhuma regalia laboral obtêm, e ficam com as tarefas realizadas e dão descanso aos seus colaboradores do quadro. Esta situação gritante só pode ser de chamada de mão-de-obra barata. Onde estavam e estão os sindicatos e o PCP a invocar a precariedade laboral?
Uma vez que perguntar não devia ofender, questiono o mui esforçado presidente da Câmara Municipal de Serpa, a ver se me responde: qual o critério escolhido para aumentar substancialmente o número de funcionários para limparem as ruas? Quer que responda por si, mui esforçado presidente? Ora vejamos a sua justificação: como as vagas dos outros concursos já tinham as pessoas escolhidas, por mérito, outro critério é impensável, e estava exaurido das constantes reclamações e barulho das ex-beneficiárias do RSI no edifício do Município de Serpa resolveu silenciá-los e empregou estes pedinchões. Caro mui esforçado presidente, mais uma vez tomou a decisão que onera o contribuinte, antes de contratar deveria ter pedido a informação do histórico da situação na segurança social de cada candidato ao emprego e rapidamente perceberia que muitos pedinchões estiveram anos a fio a receber o RSI e que fizeram desta prestação não contributiva uma forma de emprego. Logo, por mais que nos custe, estes cidadãos não deveriam estar a receber a benesse de lhes entregar mais dinheiro proveniente dos impostos dos bons pagadores portugueses.
O mui esforçado presidente conhece o provérbio, certamente conhece, é chinês: "não ouça o que lhe dizem, vá ver", neste caso, as ruas que continuam exageradamente sujas, apesar da abundância de vassouras e carrinhos de lixo a circularem pelas ruas de Serpa. Neste lote de pessoas que empregou se pretender renovar-lhes o contrato, só umas três pessoas merecem, porque aproveitaram a oportunidade que o mui esforçado presidente lhes deu, e por isso, desempenham as tarefas com eficiência, os outros entrega-lhes o salário e passam a vida encostadas à vassoura e a fingir que varrem. São as tais que são pós-doutoradas em manha, e frequentaram a universidade do RSI, conhece mui esforçado presidente?
Não posso terminar, sem lhe colocar uma última pergunta: qual é a utilidade de ter uma funcionária de limpeza na hora do expediente da Biblioteca Municipal de Serpa? Certamente já frequentou serviços abertos ao público e em que a limpeza é efetuada antes da abertura, ou se não encerrarem tarde, fazem-na depois do fecho. O mui esforçado presidente não deve ter encontrado em lado nenhum, só mesmo em Serpa, uma pessoa que mais parece um manequim de pano do pó na mão encostada ao balcão de atendimento, à espera que desocupem as mesas e os computadores. A Biblioteca Municipal de Serpa é fora do comum, estão os utilizadores concentrados nas leituras ou absortos a trabalhar nos seus computadores e ficam fascinados quando de repente aparece alguém a limpar as estantes dos livros, superficialmente diga-se, tal habilidade da manequim de pano do pó na mão, caro mui esforçado presidente incomoda e perturba muitíssimo e mais uma vez, siga o provérbio, que é de origem chinesa: "não ouça o que lhe dizem, vá ver."
Espero que não se ofenda, até porque perguntar não ofende, ou não deveria ofender!