O insólito com pernas
A teoria da existência de insólitos com pernas está mais do que comprovada. Se há dúvidas que a Terra é redonda, na teoria dos insólitos com pernas não se conhecem a existência de negacionistas.
O Fernando Medina não podia negar a sua índole quando na conferência de imprensa de apresentação do Orçamento do Estado 2022 por duas vezes trouxe à liça a palavra insólito. Segundo o mais que previsível Ministro das Finanças é insólito acusarem o Governo de Costa e o seu orçamento ser conservador sem ímpeto reformista; sendo o primeiro orçamento desta nova legislatura acha anormal exigirem que responda a quatro anos de governação. Sinceramente, por cinco minutos senti pena do rapaz que quando aparece na televisão no oráculo está escrito Fernando Medina: Ministro das Finanças e como nos contratos deveria estar no rodapé com letras que só com uma lupa se lêem: o Ministro das Finanças que mais parece um contabilista que não tem na sua alçada os programas onde estão os cheques com cobertura, a tal bazuca, por exemplo.
Para esclarecer o verbo "acusarem" na terceira pessoa do plural é para disfarçar, pois a acusação feroz partiu de Cavaco Silva que amava mais a sua pensão do que a remuneração de Presidente da República.
O outro insólito a que fez referência foi o facto de todos acharmos que o orçamento apresentado não ter corrigido as contas públicas que irão derrapar com a subida da inflação, logo será preciso um orçamento rectificativo. Se a fixação da despesa pública nunca são cabimentadas de acordo com as despesas reais de cada ministério, ou seja, estão sempre com défice orçamental. Imagino como vão ser os próximos meses com a subida dos preços a que estamos a assistir umas vezes justificadas outras injustificadamente, uma escola quererá comprar uma resma de papel para fotocopiar os testes dos alunos e nenhum fornecedor irá fiá-la. Se a manta estava curta, agora com a inflação parece que a manta foi lavada na máquina de lavar a roupa a 90°C, escusado será dizer que encolheu.
O Fernando Medina sem saber lançou o adjectivo pelo qual o Governo de Maioria Absoluta de Costa irá ser lembrado daqui a muitos anos. O governo dos insólitos.
As maiorias absolutas são terreno fértil para a germinação fácil de insólitos. Insólitos com pernas e bem calçados, ora de salto agulha, ora de sapatos clássicos de pele.
p.s.
Sempre gostei de dar o ar da minha suposta graça em relação ao político Cavaco Silva. Em 2016 publiquei neste estaminé umas palavrinhas sobre esta personalidade da nossa democracia: "Singularidade da Política Portuguesa: Presidente da República Pensionista."