O incendiário fora de época
Boa semana
1. Uns dias antes de ser oficializada a dissolução da Assembleia da República, o Primeiro-Ministro António Costa fez mais de trinta aparições públicas especializadas na limpeza de imagem de um Governo reactivo a gostar de eventos iguais aos que a FIL organiza: não são mais do que uma montra de expositores onde os visitantes intentam uma promessa de compra de um serviço/projecto firmado com a troca de email ou número de contacto telefónico em que esse telefonema nunca acontecerá, e assim serão as apresentações de investimentos nesses dias a gastar desnecessariamente, os pneus dos carros do Estado, já não soube perante os seus erros cirúrgicos pegar no carro e ir ter com os agricultores e polícias prestar esclarecimentos.
2. O político António Costa, primeiro-ministro demissionário, foi um incendiário fora de época ao decidir atribuir um novo subsídio de missão à Polícia Judiciária, excluindo as outras forças de segurança. Para os incautos acharam uma decisão sem intenção, porém não foi. Um político experiente saberia que ao abrir um precedente com a atribuição de aumentos apenas a um dos organismos que pertencem às forças de segurança de Portugal causaria um incêndio nas outras "quintas". Este fogo posto do Primeiro-Ministro tinha muito mato seco para se transformar num grande incêndio, uma vez que já são antigas as reivindicações da PSP e GNR na exigência de aumentos salariais e nas melhorias das condições de trabalho. Na questão dos agricultores embalados pelos seus congéneres europeus lançaram-se à estrada com as máquinas agrícolas, apesar de as razões serem diferentes, os portugueses querem os pagamentos dos tais duzentos milhões que o Governo anda a prometer cada vez que há um encontro entre os produtores do sector agrícola. Os subsídios tardam a chegar e o que o governo tem para apresentar são as linhas de crédito quando não há banco nenhum a emprestar dinheiro a quem tem vários empréstimos em curso. O Primeiro-Ministro demissionário não esteve com predisposição para receber os agricultores e nem as forças de segurança em protesto. Os líderes iriam ao encontro das pessoas em protesto, os chefes mandam os seus subalternos enfrentarem a multidão descontente e desesperada.
3. Antes de abandonar as funções governativas o político António Costa ministrou a sua última aula subordinada ao tema: a táctica para descredibilizar um futuro adversário político num lugar na União Europeia. Na sua aula de despedida o alvo foi o seu membro de governo José Luís Carneiro. É quase unânime na sociedade portuguesa que o único ministro com melhor desempenho capaz de criar consenso e encontrar soluções com as ferramentas autorizadas e permitidas pelo Primeiro-Ministro António António, queimou a reputação credível que tinha granjeado junto de todos os portugueses (e na Europa) lançando o fósforo incandescente, ou seja, o subsídio de missão para uma classe profissional afecta à segurança e investigação criminal, prevendo que José Luís Carneiro poderia ser a sua sombra para na eventualidade de este ser escolhido para uma função europeia, por via de ser cabeça de lista do Partido Socialista para a eleição de deputados para o Parlamento Europeu. Nos cargos europeus, o José Luís Carneiro é mais recrutável do que o António Costa e por saber isso, tratou de transformar em carvão a imagem de credibilidade e a postura de dialogante. O incendiário tem um prazer sádico de atear o fogo e assistir de camarote esfregando as mãos de felicidade ao ver a sua malvadez estar a ser a notícia de abertura dos serviços noticiosos; o ministro da administração interna a desdobrar-se em explicações forçadas, a calma, o seu perfil moderado, deu lugar às respostas impulsivas e às justificações temperamentais conduzindo ao aumento do clamor em torno dos manifestantes e cidadãos no geral. O Primeiro-Ministro gostou e festejou a queda da popularidade do seu ministro mais bem visto pela generalidade das pessoas colando-o aos momentos de insegurança que podiam surgir e a tomada de decisão de pedir averiguações rápidas das condutas praticadas pelos agentes da polícia na recusa do cumprimento de funções às quais estavam escalados, mostrou firmeza rude com a não aceitação de pressões para ceder às exigências das forças de segurança que se sentem injustiçadas. Como é lógico, apesar de o Conselho de Ministros ser um órgão colegial, na prática o decisor deste tipo de medidas é quem o preside, ou seja, o Primeiro-Ministro. Não haja ilusões.
4. Hoje, o debate entre os dois principais candidatos a ocupar o cargo de primeiro-ministro nos próximos anos esteve presente o incendiário chamado António Costa. O problema criado pelo Primeiro-Ministro demissionário foi caminhando para onde a luz mediática acendeu para criar impacto, e "ela" estava no Parque Mayer. As forças de segurança à civil cercaram o Capitólio, sendo bem sucedida a iniciativa hostil, uma vez que só havendo uma porta os candidatos a Primeiro-Ministro tinham de conviver a escassos metros com a injustiça criada pelo antigo secretário-geral do PS. A preocupação sempre foi a política de terra queimada, transformar tudo em cinza em prol de um bem pessoal: a sua sobrevivência na profissão de político. É uma ditadura esta que os portugueses vivem quando estes políticos usam a democracia sempre a favor dos seus interesses pessoais. A democracia devia ser outra coisa. Mas, esta é a que temos. Temos um elefante branco na sala, chamado António Costa, que estará até que o vencedor das eleições legislativas use o extintor para repor algum bom senso e tentar resolver esta circunstância desigual em que uns recebem a benesse e os outros recebem um zero bem redondo.
Quem ganhou o debate entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro? Respondo: o Primeiro-Ministro demissionário. E ninguém foi ainda capaz de aludir a esta particularidade que condiciona o regular funcionamento da campanha eleitoral.
NOTA BENE: Desejo a todos vós uma semana calma e saudável, o ar está irrespirável bem sei, mas usemos a máscara e desliguemos a televisão quando estes disseminadores de fumo poluído estiverem em acção.