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Perspectivas & Olhares na planície

Perspectivas & Olhares na planície

O "Cavaleiro" montado nos quadros do Estado

(Escrito no dia 8 de Maio de 2023)

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Espera-me uma semana auspiciosa em termos de boas notícias, perguntar-me-ão a razão deste meu pressentimento. Alguém muito conhecido que tem um Palácio como morada oficial mas não vive lá é regido pela (in)consciência, por isso eu sou influenciada pelos pressentimentos. Cada qual orienta-se com o trambelho com que nasceu e que foi acertando ou desacertando enquanto vai soprando as velas do bolo de aniversário ano após ano.

Agora fora de brincadeiras, o motivo para o presságio – supra mencionado – justifica-se com a primeira notícia que li na segunda-feira: o ex-director do Museu da Presidência foi condenado a 6 anos e seis meses de prisão efectiva. O DCIAP com a "Operação Cavaleiro," foi assim baptizada, cometeu uma enorme maldade ao despir as paredes da casa do "Cavaleiro" e dos seus amigos. Ficou com a decoração empobrecida e banal, lá se foram os artefactos que davam um toque de requinte e luxuosidade aos aparadores e aos sofás vindos directamente do IKEA. É de alguém com um coração de gelo impor um downgrading social abrupto a este "Cavaleiro". Para além da insensibilidade atroz de não reconhecerem que não quis ser novo rico sozinho, incluiu os amigos nesta façanha de os transformar também em novos ricos,  partilhando com eles os quadros, as peças de decoração pertencentes ao património do Estado Português. O "Cavaleiro" queria ir à casa dos amigos do peito e não queria ferir os olhos a olhar para os quadros com imitações das paisagens de Monet, comuns em casas da corja a achar-se a fina elite portuguesa. Será! Quem sou eu para contrariar o biltre que subiu a pulso na horizontal ou nas cunhas, não a dos sapatos, as outras não palpáveis. Há uma consideração que o Juiz nunca lhe iria imputar: a de egoista. 

Não querendo fazer o downgrading social e ainda por cima ficar com cadastro, nem pensar, forçosamente irá recorrer da sentença. 

[Escrevo o termo downgrading para dar um outro élan aos meus escrevinhos. O homem leva com os cinco dedos peças valiosas para fazer parte do seu património pessoal, não tinha veemência escrever "desceu de nível social", "sofreu uma desclassificação social", o termo inglês é que atribui o tom dramático que a situação demonstra. Se bem que decadência social, rebaixamento social...]

O seu Rábula, ou seja, o seu "advogado que embaraça as questões com artifícios" (citando a infopédia/ Porto Editora) à saída do tribunal vinha com a encenação do pobre inocente que até recebeu  condecorações de dois presidentes da República: "O que o tribunal parece que entendeu é que Diogo Gaspar traiu a confiança dos Presidentes da República e, portanto, surge não como atenuante, mas como agravante. Mais valia não ter feito nada de bem a favor do Estado... Se for assim, parece-me profundamente incorreto." 

Este "conto de fadas" do menino que levou ao extremo as condecorações ao sentir que teria direito a ser o fiel depositário de algum espólio do museu da República, bem como fazer um grande pé de meia à conta do negócio da arte que não é sua, recorda-me uma estória que a minha mãe me contou.

Ei-la: na zona de Beja havia uma quinta chamada de  "Quinta de Todos". Certa vez, um homem entrou pela quinta adentro e do grande laranjal começou a colher laranjas, foi interrompido pelo dono que o interpelou: — O que é que está a fazer? Tem autorização para estar a colher as laranjas?

O homem respondeu: — Não tenho e não preciso. A quinta não é de todos? Vim buscar o que me pertence, o meu quinhão.

Assim está este "Cavaleiro", adoptando a lógica de que tudo é do Estado é nosso, levou o seu quinhão para casa e ainda entregou as outras quotas-partes aos amigos.

Não é difícil viver, difícil é saber viver. 

 

 

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