Falam do problema B, mas sem o problema A não existia o problema B!
“(...) uma imagem reflectida num espelho é sempre mais baça, e um pouco distorcida. O convexo e o côncavo trocam de lugares, a falsidade vence a realidade, a luz e a sombra enganam os olhos.”
Haruki Murakami, Underground – O Atentado de Tóquio e a Mentalidade Japonesa
[Preparem os paus para acender a fogueira… Vou ser lançada viva para a fogueira]
“(...) – Porque temos de fugir da verdade quando ela nos está a cercar?”*
Quando utilizamos os transportes rodoviários de passageiros temos de perceber que há um decreto-lei n.º 9/2015 (15 de Janeiro) que regula os direitos e obrigações das operadoras bem como dos passageiros.
A vítima, em certas ocasiões, só se torna vítima quando não respeita as regras básicas que tem de cumprir para usufruir um dado serviço. Tudo o que aconteceu paralelamente foi despoletado por uma atitude incumpridora por parte da cidadã: o facto de ser obrigatório a apresentação ou aquisição do título transporte quando solicitado pelo motorista (art. 8.º, n.1). Como a filha da cidadã não levava o título de transporte, o motorista do autocarro só cumpriu com a sua obrigação: ou comprava o bilhete ou não podia seguir viagem. Simples. O motorista tem de cumprir a lei e não pode “fechar os olhos” perante o esquecimento do passe. Esta é que foi a razão principal que depressa foi esquecida com as situações lamentáveis e intoleráveis que se seguiram a posteriori: agressões verbais, violência física e o aproveitamento político para aqueles seres que se alimentam deste tipo de ‘sangue”.
A verdade é que não houve a intenção de cumprir uma obrigação, por mais razão que a cidadã tivesse, existe a lei para a contradizer e o motorista não pode ser condescendente com as desculpas e soluções que não estão previstas na lei: dura lex, sed lex. Se a cidadã tivesse acatado as ordens, se se tivesse lembrado das suas obrigações de utilizadora de transportes rodoviários de passageiros não estaria a viver esta situação em que a única prejudicada é ela mesma.
Agora resta esperar as averiguações necessárias e as consequentes punições para os actos criminosos e de violência que foram cometidos de parte a parte: pela cidadã e pelos polícias. Quanto aqueles que se auto-intitulam de varredores de serviço para eliminar o racismo, a xenofobia… que vão existindo à conta destes casos que vão ludibriando à sua medida para marcar a sua agenda porque fazem o culto da cor de pele, da etnia e da religião; Merecem que nós não percamos tempo com eles… Eles potenciam a discriminação e são muitas vezes parte do problema e um obstáculo à verdadeira integração e inclusão das pessoas na sociedade vigente e actualizada.
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*Naguib Mahfouz, As Noites das Mil e Uma Noites.