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Perspectivas & Olhares na planície

Perspectivas & Olhares na planície

Escola Secundária de Serpa: até quando sem obras?

 

 "(...) acabou-se o Alentejo ou então o Alentejo um reflexo no vidro, acabaram-se os campos, acabaram-se os montes, acabaram-se as tabernas à beira da estrada, só sobrevive o vazio (...)"

António Lobo Antunes, Para aquela que está sentada no escuro à minha espera

 

A Escola Secundária de Serpa começou o novo ano lectivo como terminou o anterior: numa escola degrada.

É inaceitável a única escola secundária no concelho de Serpa, com a valência de ensino básico, não proporcionar as condições de comodidade e segurança exigidas para a prática de um ensino que se pretende de qualidade por mais que os docentes se empenhem e os alunos colaborem. Em Janeiro deste ano, os telejornais abriram com o protesto e a decisão do director de fechar a Escola Secundária Alexandre Herculano, no mesmo dia os alunos e docentes da Escola Secundária de Serpa organizaram um protesto contra as condições precárias do estabelecimento de ensino. Porém, este protesto não abriu telejornais, como sucedeu com a Escola secundária Alexandre Herculano. A Escola Secundária de Serpa fica num município do interior profundo de Portugal, por isso só tem direito a um directo no jornal da hora de almoço e às notícias de rodapé. Em contraposição, a Escola Secundária Alexandre Herculano fica na cidade do Porto logo, tem direito a abertura de jornais da noite a semana inteira com reportagens a detalhar a degradação do edifício e com diversas entrevistas aos VIP's que estudaram no Liceu para testemunhar a pseudo-consternação pelo edifício estar à beira do colapso. Nada contra. O que me indigna é a diferença de tratamento dos órgãos de comunicação social, duas escolas com o mesmo problema, contudo em primeiro plano colocaram a Escola do Porto e remeteram para segundo plano a Escola de

Ora, o problema das salas fechadas com infiltrações na escola do Porto, não será da mesma ordem de gravidade o problema das salas fechadas com infiltrações na Escola de Serpa? Ora, fizeram vista fina aos problemas nas redes de esgotos, canalização, eléctrica e à falta de isolamento visíveis na Escola do Porto, e fizeram vista grossa aos problemas nas redes de esgotos, canalizações, eléctrica e falta de isolamento na Escola de Serpa. Esta dualidade de critérios feita pelas televisões vem acicatar a existência de portugueses de primeira e portugueses de segunda.

O que é certo é que a Escola  Secundária Alexandre Herculano foi requalificada e a Escola Secundária de Serpa continua a sua senda pela decadência. Bem sei que a requalificação da Escola Secundária é função do Ministério da Educação, mas o Presidente da Câmara de Serpa tem demonstrado pouco interesse pela causa, pois só fica preocupado quando há protestos organizados por outrem e aproveita para dizer presente e divulga que tem treinado o seu dom de escriba, dadas as tantas missivas que enviou para o Ministro da Educação. É pena quando escrevinhou o seu programa eleitoral se tenha esquecido de incluir como uma das prioridades na área da educação a reivindicação junto do Ministério da educação a requalificação da única escola secundária no concelho. Mais uma vez expresso que é pena que o Presidente da Câmara de Serpa, em relação ao problema da escola, não tenha despendido o mesmo afinco e a mesma capacidade de mobilização aquando do processo da candidatura do cante alentejano a património imaterial da humanidade. Para a valorização do cante, que nem é exclusivo de Serpa, bateu a todas as portas, viajou até à capital, tudo por causa do cante, já para resolver o problema da escola o seu esforço resumiu-se a umas cartas escritas ao ministro que tutela a educação. Pouco, muito pouco. O Presidente da Câmara de Serpa e Ministro Tiago Brandão Rodrigues apresentaram o mesmo critério: o da indiferença. O ministro relativizou as cartas e o que é que o autarca fez de Janeiro até ao momento? No debate Prós e Contras desta semana, na RTP 1, debateu os constrangimentos e dificuldades no Alentejo e, nesse sentido estavam presentes vários autarcas para mostrarem e exigirem a resolução dos problemas dos seus munícipes, onde estava o Presidente da Câmara de Serpa? Pois, a cobertura da escola ainda não desabou! Será que a Escola Secundária de Serpa é elegível em alguma categoria catita de salvaguarda do património da UNESCO ou organismo semelhante? Esta pergunta tem pertinência, uma vez que o Presidente da Câmara de Serpa está especialista em gizar candidaturas com elevado índice de aprovação em organismos como a UNESCO.

Ironias à parte, o que importa relembrar aos intervenientes do poder central e local é que estão a perpetrar uma desmedida injustiça com a menorização dos problemas das coberturas e isolamento da escola, com a existência de laboratórios obsoletos pedagogicamente e tudo aquilo de positivo que a renovada escola do Porto tem para proporcionar aos seus alunos e que, infelizmente os alunos da escola de Serpa não podem usufruir, neste momento.

 

 

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Post Scriptum: as condições miseráveis que o edifício da Escola Secundária de Serpa apresenta, não pode ser justificação para o desleixo que se assiste continuadamente nas áreas exteriores envolventes à escola. Ou seja, entramos no portão principal da escola e olhamos para o lado esquerdo e em vez de se ver um espaço verde a ladear o parque de estacionamento, vemos os funcionários a fazerem da escola uma extensão das suas casas: capoeiras com galinhas, casotas com cães, sujidade, lixo... Sem esquecer a erva por cortar que vai secando sem que algum funcionário inclua nas suas tarefas diárias o corte do ervançal. Se calhar o dono das galinhas ainda não se lembrou de ter uma ovelha para pastar nos terrenos ervosos da escola!!! Fica a sugestão...