És VIP, ó grande coisa, eu sou VVIP!
A famigerada lista VIP abriu telejornais, fez capa de vários jornais e revistas, fez cair diretores, e por isso, alguns deputados da nossa sede da democracia – os da bancada da esquerda, pois está claro – pediam a cabeça do Secretário de Estado Núncio, mas em abono da verdade pediam era as cabeças, os troncos e os membros do Governo dos “Pinóquios de Plástico”.
Como seria de esperar, o nosso Primeiro, a nossa Ministra das Finanças das unhas pintadas de vermelho sangue de boi e o Penteadinho do Secretário de Estado, inocentemente, colocaram os factos comprovados da existência da lista VIP dentro de uma caixa com um grande laçarote – daqueles que se aplicam nas redomas de flores para os defuntos – remetida a dois destinatários: António Brigas Afonso e José Maria Pires, sem hipótese de devolução.
Reconheço que desta vez os partidos da oposição foram longe demais e concordo com a decisão do Governo dos “Pinóquios de Plástico”, por uma insignificante lista de contribuintes VIP, ia o Governo cometer o desvario de demitir-se? E deixaríamos de ver por mais uns mesitos o Penteadinho e a Ministra das unhas pintadas de vermelho sangue de boi? Claro que não! Ingénuos e ignavos que somos, aceitamos qualquer justificação estúpida destes políticos ardilosos! Pensando bem, sermos frouxos e/ou inertes tem um lado compensatório, isto é, o Governo dos “Pinóquios de Plástico” até está a ser nosso amigo em não pedir a demissão à pressa, pois não estaríamos preparados para enfrentarmos esse estrondoso choque emocional e desta feita, evita-nos umas idas ao psiquiatra para tratar a Síndrome de Estocolmo, devagar com o andor, ou melhor com a exigência que o “Pinóquio de Plástico-Mor” apresente o sua demissão…
Mais, achei de uma enorme competência o imputar a genialidade da lista VIP a quem de facto foram os inventores, nada cá de “inventorzecos” menores: Secretários de Estado, Ministros…
Tanto burburinho em torno dos contribuintes da lista VIP e vai-se a ver a tal lista tinha, alegadamente, quatro pessoas: Passos Coelho, Paulo Portas, Cavaco Silva e o próprio do Núncio. Tanto, por tão pouco, só mesmo neste país…
Por sua vez, tanto esquecimento em torno da lista dos contribuintes VVIP. As pessoas muito muito importantes (VVIP) são as tais que sustentam a corja governativa portuguesa e que carregam às costas as soluções milagrosas que os governantes inventam para fomentarem os seus interesses pessoais e nunca os interesses do país e, consequentemente, de todos os cidadãos. O Clementino do minimercado, a advogada Urraca, o Chico da cortiça, a Maria Prudência chefe de secção da fábrica dos sapatos e botas da moda são estes e mais um milhão de anónimos que fazem parte da lista de contribuintes VVIP que não abrem telejornais, nem fazem a primeira página dos jornais de Lisboa ou Porto; tristemente, são desprezados porque não têm peso nenhum para aumentar as audiências televisivas ou ampliar o volume de vendas dos jornais, em compensação, têm um enormíssimo peso para acrescentar mais receitas ao Estado provenientes do pagamento dos vários impostos. Se esta lista dos VVIP feita às claras e engenhosamente não contribui para rolar cabeças como é que uma lista badaladérrima, alegadamente, com quatro pessoas podia originar um pedido de demissão do nosso Primeiro-Ministro e arrastar todo o seu governo de plástico para a rua dos “empregos” inventados à pressão?
Só em sonhos, mas nem tais povoam no nosso sono, temos que nos contentar com os pesadelos a infernizar as nossas vidas de olhos fechados (a dormir), e de olhos abertos (acordados).
É caso para dizer a cada um destes espantosos seres humanos: és VIP, ó grande coisa, eu sou VVIP!
É na Grande Família (VVIP), que a Pequena Família (VIP) “mama” desrespeitosamente.
Ou, será o inverso: a Grande Família são os contribuintes VIP: os polvos e as cigarras, e a Pequena Família correspondem aos contribuintes VVIP: as formigas? Caro/a leitor/a escolha a hipótese que mais gosta…
Aparte: é conhecida a animosidade do Cavaco Silva para com o Paulo Portas, nem é menos conhecida a aversão que o Paulo Portas sente pelo Cavaco Silva. Tudo por causa de um tal Independente, jornal que catapultou o Paulo Portas para o estrelato da vida pública portuguesa. E, de repente, assistimos a troca de galhardetes de parte a parte, parece que celebraram um pacto de não-agressão. Conhecemos bem demais as duas figuras para saber que esta paz podre e esta amizade bolorenta estão assentes em alguma promessa. Será que o Paulino das Feiras prometeu ao Homem do Bolo-Rei que enquanto estivesse no Governo ninguém iria bisbilhotar os seus dados e situação fiscal? Mistério…