Boa semana
1. Há duas semanas, estava a ver o Telejornal (RTP1) ao mesmo tempo que "depenava" um cacho de uvas, mal eu sabia que não seria esta a minha única fruta a fazer parte da minha sobremesa. Decorridos 13 minutos de actualidade, sendo o mês de Setembro conhecido pelo início do ano lectivo, começou a ser emitida uma reportagem sobre a colocação dos professores, sem prever engoli uma cereja caída do topo do bolo: uma educadora de infância respondia à pergunta da jornalista ("este subsídio agora de ajuda à deslocação, a professora vai ter direito a ele") desta forma: "espero bem que sim, como todos os nossos colegas, não é, que estão deslocados, que o que ele disse que mantenha a palavra, não é..."
Quem é este ele? Quem começasse a ouvir estas declarações a meio, questionar-se-ia quem seria o tal ele.
Esta professora com formação em ensino pré-escolar é de uma má educação atroz. Gostemos ou não dos nossos governantes não será desta forma que falamos do nosso superior hierárquico, aliás nem é forma de tratar alguém quando sabemos o nome e mesmo que não saibamos não usamos o ele. É tão feio, para além de denunciar a sua malcriadez, é mais do que uma formalidade de tratamento entre pessoas, é respeito, é boa educação.
Denota algo muito simples, trata o Ministro da Educação por ele, tal como tratará o pai por ele, a mãe por ela. Esta descortesia será uma característica da Senhora que escolheu ser Educadora de Infância. Por isso, deve gostar de ser tratada por ela. Exorto os seus alunos a prescindir do Senhora Professora, Senhora educadora passando a utilizar ela quando necessitarem do seu auxílio durante o horário escolar, para ver se gosta desta indelicadeza.
Para esclarecer o ele a quem se referia a Excelsa professora do ensino pré-escolar era nada mais nada menos o Ministro da Educação Fernando Alexandre.
Estes modos, esta falta de polidez no trato, tiram-me do sério.
2. Ouvi uma mãe a queixar-se do facto de o filho, no 5.° ano, ter três tardes livres e por isso a não ser costume a escolar programar para o 2.° ciclo actividades complementares. Os miúdos têm dez anos na sua maioria, supostamente não podem estar em casa sozinhos, e sem rede de apoio para ficar com a "criatura", como fazem os pais? Pagam a centros de estudos ou pedem a alguém para ficar com eles.
Eu sou de outro tempo, com dez anos ia fazer pequenas compras e pagamentos das facturas da água à junta de freguesia. A autonomia constrói-se cedo. Bem sei que hoje em dia é um drama os miúdos com esta idade ficarem em casa sozinhos, mas podem andar de noite a calcorrear as ruas da área de residente ou a reclamar baixinho "já a formiga tem catarro", quando um agente da autoridade chama a atenção para apanhar o papel lançado para o chão. Esta mãe está no direito de questionar o facto de o filho ter muitas tardes livres, não pelo facto de não conseguir ficar com, uma vez que trabalha em casa, mas pela razão de achar que não o sabe como o entreter. Um miúdo com dez anos não sabe entreter-se? Brincar com carrinhos, fazer sudoku, jogar à bola, jogar playstation com moderação, por exemplo. A gestão de autonomia dos filhos, está pelas ruas da amargura. Ver pais à porta da escola para saber como correu o exame de português do 12.° ano ao filho/a, é de uma alucinação sem medida. A minha mãe estava tramada se tivesse esta postura, passava a vida à porta da escola, na altura eu fazia exame nacional a todas as disciplinas, excepto a Educação Física. Equilíbrio. É a palavra-chave que entrou em desuso na educação e acompanhamento da vida dos filhos. As tardes livres não devem ser um drama (mesmo muitos pais estarem no trabalho), uma vez que as escolas têm clubes temáticos onde podem participar, cuja a frequência está escalada para as tardes livres dos estudantes.
Desejo a todos vós e a Ela – à tal docente – uma semana mergulhada na sabedoria que os livros podem trazer perante as várias dificuldades que o início do ano lectivo presenteia sem que haja um pedido de presente.
