Boa semana
Marca no calendário: 16 de Outubro de 2023, celebra-se o Dia Mundial da Alimentação, regressa à mesa, pelo menos umas horas, a discussão da importância dos feijões e dos brócolos. A dias da comemoração do dia das bruxas salta para as mesas dos portugueses a abóbora, é pena não ser para a panela para ser cozinhada. Só se lembram dela para fazer de lanterna depois de desenharem os buracos para os olhos e boca. Acho uma brincadeira disparatada. Não se deve brincar com os alimentos. Há tantas pessoas que não têm uma fatia de 300 gramas de abóbora para a sopa, enquanto que outras entretém-se a fingir que são o Miguel Ângelo a esculpir o legume laranja de sementes. A minha bisa dizia em tom de brincadeira: vê lá não comas abóbora em demasia, ficas sem força nas canetas.
Hoje, também se assinala o Mundial da Coluna Vertebral. Todos temos, mas alguns mais do que outros, no sentido figurado. Na maioria das decisões políticas nota-se a inexistência de coluna vertebral. Transportando para a realidade portuguesa o novo capítulo da escalada de violência no conflito Israelo-palestino tiramos a primeira conclusão: vamos ser dos países europeus com mais vítimas mortais. Confesso o meu enorme desconhecimento de haver tantos patrícios com os nomes totalmente em hebraico. Estou mais habituada a identificá-los com aqueles apelidos caracteristicamente portugueses: Stephenie Pereira ou Johnny Silva. Ninguém é capaz de afirmar que não são de origem portuguesa. Os apelidos denuncia-os.
Todos precisam de carinho, respeito e auxílio do Estado Português, somos portadores de cartão de cidadão e passaporte com o brasão de Portugal cunhado, todavia, se as vítimas dos incêndios de 2017 se se apresentassem como luso-descendentes teriam sido melhor acompanhados e as consequências dos incêndios teriam sido resolvidas com maior celeridade. Há tantos portugueses nascidos e criados em Portugal que são desprezados pelo Estado Português quando precisam de socorro que por vezes quando não há coluna vertebral o descontentamento pela dualidade de tratamento gera revolta.
Segundo o IPMA nos próximos dias estaremos sob a égide de sistemas depressionários(?!). Espero que estes sistemas se liguem à região andaluza. Quando a economia local dos concelhos portugueses depende do Rio Tejo, os vizinhos espanhóis não respeitam o protocolo da libertação de água que está acordada entre estas duas democracias. Só quando têm excesso de caudal (durante os meses de Inverno) resolvem cumprir o Convénio, assim o Tejo nos meses quentes está quase sempre seco em muitas zonas. E o mesmo acontecia com o Rio Guadiana, porém como os agricultores de Andaluzia achavam que podiam ganhar sempre, perante a seca severa que estão a enfrentar apelam à chantagem emocional cobiçando descaramente a água da barragem de Alqueva, exigem-na para regar as produções agrícolas de Huelva. O karma é tramado. Nós não estamos sempre na mó de cima, têm a mania que são mais espertos e já fazem ilegitimamente captações de água jusante de Alqueva, não podem pedir mais cedências que prejudiquem a população portuguesa. Assim, estou a torcer que os sistemas depressionários que estão para chegar nas próximas horas façam uma bifurcação: uma parte fica cá e a outra vá em direção dos espanhóis de Andaluzia. Os descarados têm muita piada eis o que fizeram: "O Parlamento Regional da Andaluzia aprovou uma proposta para a transferência dos direitos da água dos utentes do Alqueva para os utentes da bacia hidrográfica Tinto-Odiel-Piedras e Chanza, no âmbito da cooperação entre Portugal e Espanha, noticiou o jornal Público, este fim de semana." É inacreditável, depois de Portugal ter relevado a não libertação obrigatória de água para o nosso Rio Douro, querem a "transferência dos direitos da água dos utentes de Alqueva" (!?).
Deixem-me ser egoísta, pelo menos durante uma semana, fico incomodada com a compra da nacionalidade portuguesa como recompensa de uma injustiça que nos querem colar como um autocolante* ou com a desfaçatez dos espanhóis na tentativa de apoderar-se da água que não é deles quando não se têm acanhado em não cumprir os acordos sobre a água com a condição de pensarem em primeiro lugar neles e apenas neles.
[* Há portugueses que vieram durante a descolonização que não conseguem obter a nacionalidade portuguesa e consequentemente os filhos nascidos em Portugal também não. Mas, estes portugueses vivem em bairros sociais ou em casas térreas simples. Os tais que penduram a bandeira de Angola ou Moçambique na janela e muito português branco fica irado. Acreditem que estas pessoas não têm a cidadania portuguesa e viviam nas colónias e quiseram vir para Portugal, portanto eram e são portugueses como eu, por exemplo. A diferença é que tenho cartão de cidadão e eles são considerados apátridas.]
Desejo a todos vós uma semana com um pouco de egoísmo, também é preciso. Se não pensarmos em nós de vez em quando, quem pensará?