Autarquias 2021: os Carreiristas
Parte II
PARTE I: Autárquicas 2021: Argumento ad terrorem
PARTE II
" Era como se a expressão da noite, das coisas obscuras, do pequeno vale obscuro, das pessoas que riam na sombra, da folhagem agitada, da ave, do perfume e da terra exalasse o encanto dum mundo fechado sem nome."
Agustina Bessa-Luís, Mundo Fechado
O "mundo fechado" do Poder Local. O "mundo fechado" das assembleias de freguesia, das câmaras municipais e das assembleias municipais. Um "mundo fechado" que só entra quem pertence aos partidos!
Esquecendo a poluição visual dos cartazes gigantes espalhados pelas rotundas e circulares internas ou dos cartazes pequenos pendurados em candeeiros em tudo o que é rua (é pena não perceberem a pouca iluminação que emitem) que ficarão até que uma rajada de vento ajude a lembrar que não foram para o caixote do lixo os inúteis adereços de campanha partidária; as eleições autárquicas continuam desinteressantes devido ao inexistente refrescar de rostos elegíveis nas listas que concorrem de quatro em quatros anos, apesar da lei de limitação de mandatos. A ganância de querem eternizarem-se nas funções electivas localmente por sufrágio universal dificulta a aplicação de uma forma simples a lei que tinha como objectivo evitar os carreiristas, os dinossauros carreiristas do poder local.
Em Portugal há sempre bloqueios à mudança, quando há a ameaça de perderem os lugares cativos que ocupam sem intenção de abandonar as benesses que daí resultam e usufruem até morrer. Todos sofrem do mesmo mal: são detentores de uma criatividade fora do comum para inventarem estratagemas para conservar o trono público. O espanto já lá vai com a táctica de saltitar para os municípios vizinhos na esperança de permanecerem com a profissão de presidente da câmara municipal, muitos conseguiram, é um facto. Paz na vida para quem gosta de ser usado, porém as bananas gosto delas na bananeira ou na fruteira cá de casa!
Não sei se acontece na vossa região, mas em algumas autarquias no Baixo Alentejo, aconteceu um novo fenómeno de ultraje na maneira de estar / fazer política: os Presidentes de câmaras municipais impedidos de se candidatarem a um quarto mandato, são cabeça de lista para a Assembleia Municipal do município que presidiram: Jorge Rosa (Mértola), Nelson Brito (Aljustrel), e Tomé Pires (Serpa).
Não será mais uma táctica dos partidos de viciar as regras ditadas pela lei de limitação de mandatos de 2006?
Os partidos não conseguem, não querem renovar as mulheres e os homens que preenchem as listas para os lugares electivos, têm de assegurar a profissão dos seus protegidos que andaram a aprender nas juventudes partidárias: a de político carreirista; o resto dos nomes são do verbo encher, vão saltando de posição e de lista as fotografias, parecem cortadas do perfil do Facebook, quem tem, quem não tem são fotografias repescadas de outros anos.
Deve existir uma impressionante escassez de tachos para absorver este problema que a lei autárquica de 2006 veio criar aos carreiristas que não sabem fazer mais nada do que conduzir a "carreira" com paragem sempre obrigatória no aparelho partidário.
A vil prepotência que se estende à mesquinhez revela que estes autarcas impedidos de se recandidatarem, sabendo que não têm hipóteses de serem eleitos nos concelhos limítrofes, sem eleições legislativas no horizonte próximo – sinceramente, espero que haja – a alternativa foi, todos concorrerem para presidentes de Assembleias Municipais, onde supostamente ganharão e ficarão até vaguei uma cunha para outros voos sempre em defesa da causa pública. Os macacos também o são, com o pormenor de só se coçarem para dentro. Macacos me mordam, como dizia alguém com dons de líder espiritual, se não é assim!
Que exemplo de credibilidade transmitem à população votante estes políticos agarrados ao poder? Nenhuma, para mim. Todavia, nos meios pequenos onde toda a gente se conhece e que muitos têm medo da ditadura das represálias, por isso, são muito saudadas estas transferências de lugares na vida interna de um município. Não se interrogam por esta manhosice acontecer.
Serpa é um exemplo desse apoio inexcedível pelos seus homens do Partido Comunista. O Tomé Pires excedeu os mandatos como presidente da câmara municipal de Serpa, sem perspectivas de uma nomeação à altura do seu sacrifício de se ter entregado de alma e coração a fazer bem aos "outros", claro não querendo voltar ao seu mero lugar de técnico superior muito bem guardado no mapa de funcionários da Câmara Municipal de Beja (como comprova nesta publicação do Diário da República: na divisão de serviços operacionais), vai fazer o esforço hercúleo de ser o próximo Presidente da Assembleia Municipal de Serpa; vamos ver se consegue ser com maioria absoluta!
Ainda o diploma de Engenheiro técnico Civil estava a escaldar já estava a assinar o contrato por tempo indeterminado na Câmara Municipal de Beja. É milagre? Não! São anos a colar cartazes da JCP e depois do PCP em postes e nas caixas metálicas da iluminação pública da EDP. Não custa viver, custa é saber viver com este desembaraço em que não se privilegia a competência e o mérito.
A composição das listas autárquicas do PCP/ CDU são muito sui generis para estes lados de Serpa, pois tem sido uma luta de "Trabalho, Honestidade e Competência" os nomes presentes serem ao mesmo tempo funcionários da câmara municipal e das suas freguesias concelhias.
Não sei se é o partido que é a extensão da autarquia ou se é a autarquia a extensão do partido ou ambas as coisas.
Não é preciso mencionar os constrangimentos que este paradigma causa numa gestão diária do município, uma vez que, estão distribuídos e concentrados na organização da logística da campanha eleitoral.
É "trabalho, honestidade e competência" a mistura confusa de quem monta o púlpito para o Jerónimo de Sousa discursar ser a mesma pessoa que colocou as cadeiras na Praça da República para os serpenses assistirem a um espectáculo musical integrado na agenda cultural promovida pelo Município de Serpa.
É "trabalho, honestidade e competência" a voz dos vários spots promocionais institucionais da Terra Forte ser a mesma que ouvimos nas gravações emitidas no megafone do carro de campanha da CDU que percorre as ruas e ruelas da cidade e freguesias do concelho. Que acumula o fato de jornalista com o de motorista do carro com megafone; são estas e outras mais circunstâncias caricatas e pouco transparentes que confluem para as eleições autárquicas serem um rol de actos marcadamente maçadores.
Nunca o slogan da CDU foi tão apropriado para caracterizar a opacidade das relações e comportamentos das pessoas que confudem profissionalismo com compadrio e arrastam a casa da democracia local para um "mundo fechado" vedado ao comum cidadão que não está amarrado às correntes partidárias.
Ninguém é insubstituível, os cargos é que são insubstituíveis na vida destes caciques de meia-tigela nos concelhos deles que nem categoria têm para ser nomeados para um tacho qualquer num organismo estatal ou entidades sem fins lucrativas que estão a abarrotar de "políticos de referência".
Não são servidores da causa pública, antes servem-se das funções públicas ad aeternum em defesa da sua sobrevivência financeira.
"Ah, esse mundo fechado em tua alma e nos teus olhos!"
Agustina Bessa-Luís, Mundo Fechado