As habitações é que remodelamos!
"Aprendi que há palavras que dão uma cor imprecisa à frase".
Nuno Júdice, A Noção de Poema, 1962
"Cumpramos com o que prometemos no áureo período da propaganda, em nome da democracia pura, para que não se apague no coração do povo o fogo sagrado da crença no ideal da Justiça Humana; para que as suas almas não fiquem como as lavas dos vulcões extintos onde já não há uma planta que dê sombra, uma ave que cante, uma flor que sorria, uma fonte que murmure ou qualquer outra nota viva das alegrias da Terra, mas apenas desolação, esterilidade e tristeza!..."
Manuel de Arriaga, Na Primeira Presidência da República Portuguesa
Todos querem à sua maneira uma remodelação governamental. Uns pouco exigem. Outros pedem em surdina. Desde que o PCP e o BE são o braço esquerdo de um Governo constitucional, perdemos a ladainha viscosa que "o ministro tem de ser demitido", "o governo tem de cair". Semana sim, semana sim era requerida a cabeça de um ministro. O Jerónimo e a Catarina têm sabido gerir esta ânsia de mandar tudo às urtigas. Este "casal" tem mais coisas que os une, do que aquilo que os separa. Agora o que vinha a calhar era ouvir o Rui Veloso a cantar "o primeiro beijo". Como não é possível ouvir, sigo com a minha música de palavras!
O Governo de António Costa antes de começar esta legislatura já se encontrava completamente apodrecido. E tudo o que está podre, pouco conserto tem. Mesmo sendo um governo cheio de vícios, incompetências, acções vergonhosas que lesam a ética, mesmo assim os cidadãos portugueses ofertaram o belíssimo presente de mais uma legislatura encabeçada pelo António Costa.
A remodelação governamental está na mesa dos comentadores especialistas da nossa praça que pululam nas colunas de opinião nos jornais ou nos programas de comentário político. Porém, a troca de ministros não está na mesa que interessa, que é a mesa do anfitrião Primeiro-Ministro. Não está por uma única razão: as eleições autárquicas estão marcadas para 26 de Setembro de 2021.
António Costa é sempre muito hábil (a data das eleições é prova disso), com os seus parceiros de geringonça debaixo do braço, aproveitando o verão que se prevê calmo em acontecimentos políticos pois os ministros estarão de férias e os que não forem a banhos evitarão falar muito, pois boca calada não sai asneira. O primeiro-ministro quer esperar pelos resultados das eleições autárquicas para tomar decisões, por isso, todos os ministros estão instruídos para dançar consoante a música que lhes for proposta para não existir desalinho nos passos.
Antonio Costa vai esperar pela noite de 26 de Setembro de 2021 para seguir um de dois destinos bem pensados: 1 – se o PS conseguir ganhar mais autarquias do que o PSD, António Costa não faz nenhuma remodelação governamental vai arrastando os ministros impopulares para se vitimizar e consequentemente forçar eleições antecipadas para aumentar a duração da gestão a seu bel-prazer da lotaria chamada bazuca; 2 – ou perde o domínio no poder local para o PSD, inclusive a Câmara Municipal de Lisboa, e assim, irá preparar a mudança de ministros (entregando um ministério a Fernando Medina), tornando ainda mais o governo numa autêntica célula do Partido Socialista para conseguir fazer uma campanha eleitoral fingindo que governa para terminar a legislatura com elevados índices de aceitação por parte dos cidadãos. Não tem convites para a estrutura da U.E. tem de continuar a ser primeiro-ministro! Sem este lugar, irá fazer o quê? Quando alguém não tem outra profissão, sem ser esta de político?
Enfim, é um político a servir-se, colocando na beira do prato a missão de servir a nação, os cidadãos de forma desinteressada.
Por norma, sou contra grandes remodelações num governo que está estagnado e que estagna o regular funcionamento de um país que se pretende que haja uma governação com reformas estruturais na máquina do Estado, na justiça, no ensino, para além da implementação de medidas que promovam o desenvolvimento e não o crescimento económico – é a diferença de a nossa economia ser um Renault 5 e a Alemanha ser um BMW; pelo contrário, tem seguido uma governação de fogo de artifício onde mandam os foguetes e há sempre alguém do governo a apanhar as canas. Tem sido uma tragédia com a complacência do Presidente da República.
A razão de ser opositora da substituição de ministros em governos em fim de ciclo é por constar que aumenta-se os correligionários do partido a ter poder de decisão em assuntos que mexem com a vida de todos os portugueses. A qualidade ministral não é enorme dado ser sempre desinteressante pertencer a um governo dominado por peritos que só têm competência para bajular e acatar as ordens do líder partidário; logo com a lista vazia de nomes a exercer funções na sociedade civil, a tábua de salvação é a inclusão de apenas e só de "carreiristas" ao serviço do partido socialista. Escusado será escrever que se torna num governo mais medíocre, sem aptidões e inteligência para projectar a médio e longo prazos o rumo de um país que cada vez mais está na cauda da Europa.
Eleições seriam sempre a primeira e última soluções para governos ineficazes e incompetentes, com a nuance de o primeiro-ministro em exercício não ser autorizado a recandidatar-se. A renovação de políticos era assim que se concretizava.
As remodelações governamentais não são como as remodelações de uma habitação, infelizmente.
Sempre com a agravante de os Governos do António Costa serem a continuidade de Governos de Guterres e Sócrates. Os secretários de estado e os ministros ao longo dos vários anos de governação socialista têm vindo a fazer reconversão profissional em tempo real, ou seja, para conseguirem ser sempre escolhidos vão reorientando os (nenhuns) conhecimentos das áreas ministeriais fingindo que dominam cada uma delas; são uns indiferenciados que gostam que lhes chamem de polivalentes e/ou flexíveis em nome do bem maior que é Portugal. Tretas.
É olhar para: Santos Silva, Vieira da Silva Pai, Ana Paula Vitorino, Eduardo Cabrita, para os secretários de estado que andam de pasta em pasta desde Guterres, no entretanto estiveram no poder local ou nas bancadas do Parlamento até que foram chamados pelo Sócrates e agora andam a arrastarem-se no Governo da geringonça.
Em 2015, quando o elenco governamental liderado pelo António Costa tomou posse a primeira vez disse em voz alta: antes de estar desgastado, é já um governo desgastado, em declínio. Os mesmos rostos, com mais rugas e barrigas salientes. Nada mais do que isto. Nesta fase em que o governo se encontra, não sendo uma cozinha à espera de remodelações, mudando as caras nunca ficará com o ímpeto pela competência, pela gestão ética, pela auto-responsabilidade de péssimas decisões que conduziram e/ou conduzem a erros lesa pátria.
p.s. Hoje é dia 3 de Agosto de 2021. Sabem o que aconteceu há 53 anos neste dia e mês? Estava de férias e aconteceu o inesperado: António Oliveira Salazar cai de uma cadeira. Mais tarde percebeu-se que a data 8 de Agosto de 1968 ficaria na História de Portugal não como um passo para a instituição da democracia, mas num processo de maquilhagem à medida de Marcelo Caetano que não era carne nem peixe, mas que pretendia manter-se nos destinos de Portugal manipulando a sociedade que iria ser uma espécie de Franco na Espanha democratizando o país. Se o Estado Novo precisa de ser estudado por todos, a fase em que o Marcelo Caetano liderava Portugal ainda precisa de ser mais estudada, pois, está tudo por conhecer, inexplicavelmente. Parece que não existiu, do Salazar passamos para o golpe militar de 25 de Abril de 1974.
A fuga para o Brasil fez milagres: santificou-o. Há alguém que está sempre a regressar de lá, é para matar as saudades! Tudo faz para ter sempre a rota Portugal-Brasil na agenda das visitas pessoais e, principalmente, oficiais.