A tua escola vai ganhar o selo ou 10 mil euros? (e os pais à beira de um ataque de nervos...)
A ânsia desmedida das escolas em entregar manuais escolares escritos, pintados, com o rabisco da cara laroca do professor. Somando ainda: as páginas em falta, a típica nódoa de batata frita e mesmo com a migalha escondida na costura das folhas - se calhar até formigas têm porque resolveram aprender como se resolve o teorema de pitágoras - ou simplesmente perfumados com a fragrância nauseante a óleo Fula que denuncia os maus hábitos alimentares vigentes por muitos lares portugueses. Ou seja, a escola na entrega dos manuais só teve a preocupação de cumprir um único critério: atribuir o livro ao voucher emitido. Porquê? Porque o Ministério da Educação inventou um prémio no valor de dez mil euros para laurear as vinte escolas públicas que mais reutilizassem os manuais escolas no ano lectivo 2019/2020. E ainda está equacionado a atribuição de um selo às cem escolas que professem as boas práticas da reutilização dos manuais escolares. (ler notícia aqui)
Assim, está explicada esta indisciplina na entrega dos livros escolares aos encarregados de educação que deveriam estar na reciclagem dado possuírem as marcas indisfarçáveis do campo de batalhas que enfrentaram no ano lectivo que passou. Nestes últimos dias tenho acompanhado os relatos de indignação dos pais que têm mostrado imagens dos livros que calharam em “sorte” aos seus filhos, até fico com pena dos ditos manuais escolares, dada as sessões de “violência física” a que foram submetidos depois de estarem três dias ao relento no mês de “Abril, águas de mil”. Eu é que não queria ser livro escolar!
Este prémio está apoiado num mau princípio: o esforço despendido pelas escolas na reutilização dos livros só acontece porque há no horizonte a possibilidade do benefício pecuniário. Se assim não fosse, não havia tanto empenho em implementar uma medida facultativa emanada pelo Ministério da Educação.
É um dever do ensino público instituir a reutilização dos manuais escolares sem contrapartidas de qualquer cariz. Nós temos compromissos sociais, éticos que devemos cumprir e respeitar. Os princípios da educação não são passíveis de serem comprados, pois não têm preço.
Há uns meses largos tinha lido que:
A Secretária de Estado da Educação bem disse só que ninguém das escolas acatou a ordem. Mais uma vez se prova que não houve fiscalização aquando da entrega dos manuais escolares no término do ano lectivo, consequentemente, as tais penalizações previstas na regulamentação afecta a este novo regime da gratuidade dos livros não tiveram lugar. O Estado foi lesado pois os pais entregaram indevidamente os livros em mau estado em vez de ficarem com os ditos e proceder ao seu respectivo pagamento. Como nada disto aconteceu: a expectativa de receber os dez mil euros (medida anunciada em Janeiro) aceitaram todos os manuais sem controlo, quantos mais melhor, inviabiliza a qualidade da iniciativa e quebra-se a confiança que deve existir no sistema de reutilização dos livros que está a dar os primeiros passos em muitos estabelecimentos de ensino.
(Na minha escola já existia o empréstimo de livros. Só que os livros emprestados estavam dependentes do rácio definido para cada escalão do subsídio escolar – A, B, Excluído –, atribuído a cada aluno no início do ano lectivo)