A TAP: o abono de família de alguns
"(...) — Pas de liberté pour les ennemis de la liberté...
— Não compreendo. Parece francês, mas não compreendo.
— É uma frase de Saint Just, um dos homens da Revolução Francesa. Quer dizer, mais ou menos, que não deve haver liberdade para os inimigos da liberdade."
José Saramago, Clarabóia
Desde o momento em que, como anuncia na informação institucional respeitante ao seu accionista: "100% • República Portuguesa, através da Direção-Geral do Tesouro e Finanças", escrever sobre a TAP tornou-se numa tarefa repugnante. A adensar o pesadelo surgiu a notícia da entrega de uns vales de dinheiro para acalmar a frustração dos administradores e directores de não estarem a conduzir os BMW. Nem sei quantos directores tem de facto uma transportadora aérea falida, os administradores são mais do que as mães. Lá se vai vociferando contra a Christine Ourminières-Widene, presidente da comissão executiva TAP e Portugália, porém há o Manuel Beja com a função de presidente da TAP (SGPS e S.A.) que não se conhece nenhuma declaração oficial aos contribuintes, que são os donos desta empresa alçapão. Tendo em vista as constantes polémicas despesistas, seria natural um comunicado com as devidas justificações claras e a comprometer-se a defender os interesses dos portugueses evitando medidas de abuso de poder comprovadamente que originam despesas exageradas e inúteis numa empresa onde a liquidez depende da injecção de capital provenientes dos impostos pagos pelo contribuinte.
A senhora CEO estica a corda, todavia o senhor Chairman dá-lhe mais corda.
O vale Uber de quatrocentos e cinquentas euros é incompreensível quando, por exemplo, os professores quando ficam colocados longe da sua área de residência não lhes é atribuído pelo ministério da educação nenhum subsídio compensatório para custear parte do combustível gasto na deslocação ou na obrigatoriedade de ter de arrendar uma casa. Será razão para questionar se continuam a pagar a frota Peugeot para estar estacionada nuns armazéns esquecidos da TAP, para estarem a atribuir este subsídio, é legítimo apontar esta dúvida. Estão assim tão datados os carros que sentem vergonha em conduzi-los para não beliscar o estatuto de meninos e meninas frequentadoras da Comporta sempre à boleia das promíscuas relações de amizades .
Entretanto, saiu a notícia para suavizar a sem vergonhice: os vales UBER são para seis directores que não têm popós disponíveis para suas altezas.
Volta a questão: gostava de conhecer o organograma da TAP, não encontrei, para saber de facto quantos directores têm, certamente direcções que não fazem sentido existir cujas funções devem estar duplicadas e bem analisado estes seis directores sem carro estão a mais com tarefas que ou são feitas por outros departamentos ou podiam estar a trabalhar em departamentos agrupados fomentando as sinergias, diminuindo substancialmente os cargos de chefia supérfluos, aumentando ganhos de eficiência e de produtividade entre secções e, principalmente, evitavam despesismos financeiros com o recrutamento de recursos humanos com o critério de nomeação partidária e/ou por uma razão qualquer onde exclui a meritocracia da competência.
Iludem os portugueses com a ideia que a frota de carros encolheu, quando o que devia ter encolhido eram as chefias, os directores. Tenho a leve ideia que deve haver um director para tudo e mais alguma coisa, inclusive para dar ordem a um colaborador – passaram de moda as designações de trabalhador e empregado, como se a mudança de nomes fizesse a diferença nas regalias laborais e/ou salariais –para imprimir os boletins meteorológicos emitidos pelo IPMA para ninguém ler.
O vendaval tem sido muito ao ponto de despentear quase todos os que estão ligados directa ou indirectamente à TAP. Quase todos, pois o vendaval não passou pelos fios de cabelos do Senhor Manuel Beja. Porquê?
Está na hora dos jornalistas também noticiarem alguma coisinha sobre o Presidente da empresa pública de aviões falida.
Não queria terminar sem antes referir um pormenor pernicioso generalizado em Portugal.
Usualmente diz-se: "em Roma sê romano". A menina Christine soube aplicar esse adágio com sucesso para ter uma adaptação rápida à forma como se "trabalha" nos meandros da política portuguesa, que sem quebrar a sintonia, se estende às empresas estatais, assim se justifica a maneira como administra a TAP como se estivesse a tratar de assuntos domésticos relacionados com a gestão da sua casa. Não gostava como era realizada a limpeza do cotão no pavimento flutuante, insistiu em usar uma mopa tradicional que não é mais do que uma esfregona por molhar, em vez da mopa com panos húmidos da swiffer, teve uma guia de marcha com uma indemnização tirada da carteira do contribuinte. Habituados que estamos ao nepotismo que sempre grassou neste governo (e noutros), no poder local (nas autarquias conseguimos fazer uma árvore genealógica com os principais membros de cada apelido que tanto podem ser dos eleitos como dos recrutados via cunha partidária) a menina senhora foi dando mais passos para se sentir finalmente "em casa" foi nomear uma amiga que por sua vez é esposa do treinador pessoal do seu marido. Foi um investimento para diminuir as despesas do marido no orçamento familiar, ninguém compreende nada. Quando há uma grande apelação à poupança, a CEO fez o que era esperado, à espera de um desconto, contrata a esposa do responsável pela boa forma física do marido. Se pensarmos bem: o marido da senhora Christine consegue correr a maratona a imitar o Carlos Lopes e ter os abdominais definidos com uma ajudinha do porta-moedas do contribuinte português.
Nascemos para ser a santa casa da misericórdia desta gentinha! Estamos presos a eles. Eles livres para nos prenderem a uma liberdade desenhada com o lápis deles.