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Perspectivas & Olhares na Planície

«Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.» Paulo Freire

Perspectivas & Olhares na Planície

«Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.» Paulo Freire

A paciência nunca nos tem faltado

Diálogo retirado da série de televisão: A noite longa - a queda de Mussolini 

Rei Vítor Emanuel III: — Quando era pequeno, odiava caça. Pensava que era um passatempo primitivo. Certa vez, perguntei ao meu tutor: visto que descobrimos a agricultura, porque insistíamos em matar os animais? "Para demonstrar coragem", respondeu ele. Passei a odiar ainda mais a caça. O tutor não percebia nada. Sabe o que conta mesmo na caça?

Dino Grandi: — A precisão, o sangue-frio.

Rei Vítor Emanuel III: — O que conta é a paciência. Que é a mesma virtude de que os soberanos precisam. Só quando percebi isto é que comecei a gostar deste passatempo.

Dino Grandi: — Não é altura de ser paciente...

Rei Vítor Emanuel III: — Pedi-lhe um apoio constitucional. Não mo deu. E, agora, teremos de esperar por outra ocasião. 

Dino Grandi: — Qual? Os anglo-americanos estão a subir a península. Os alemães descem a norte. O nosso Exército deve agir,  e depressa.

Rei Vítor Emanuel III: — Só a mim me compete fazer essas considerações. 

(Aponta a mira, acerta em cheio no pássaro.)

Já está. Apanhei-o. Estás a ver. A paciência é o que mais conta. Quanto maior for a presa, mais paciência devemos ter. Mas se o senhor não a tem, encontrarei alguém que a  tenha.

A história diz-nos que o Dino Grandi não quis ser paciente e forçou a destituição de Mussolini no conhecido Grande Conselho Fascista extraordinário. O que se seguiu é conhecimento de todos, a disciplina de história deve ser sempre revisitada para com paciência dar respostas às nossas dúvidas de um pretérito perfeito a teimar ser imperfeito.  

A paciência mora na casa ao lado. Por vezes, ainda bem que assim é. Sermos impacientes permite dar um ponta pé no status quo. Verdade seja dita a impaciência surge de muitos anos de muita paciência. Quando atinge o limite de tanto esperar, somos radicais, fugindo do medo, decidimos mudar de vida. Essa mudança pode consubstanciar-se em grandes decisões para a vida: divórcio, casamento, trocar de casa, seguir outra profissão distinta, largar a cidade e ir para uma região rural ou despedir aquelas amizades que mais não são agentes tóxicos. Também as pequenas decisões chegam depois da bateria da paciência se esgotar como: ir para o ginásio, ter horários para fazer o que quiser, ir aprender uma língua estrangeira, viajar pela Europa de auto-caravana, mandar construir uma piscina.

Durante a corrente de  sucessivas palavras escrevi: "fugindo do medo", quem não tem paciência contraria o medo interior de avançar para concretizar um objectivo difícil de alcançar, só assim é possível mudar as trajectórias das rotinas profissional, familiar ou pessoal. É avassalador o medo, tanto pode ser repressivo, como impulsionador para dar o salto no "escuro" que nos trará a magia do nascer do sol à nossa vida.

Porém, não só "os soberanos", como está referido no diálogo entre o Rei Vítor Emanuel III e  Dino Grandi na série, precisam desta virtude, a paciência utilizada com bom senso é fundamental para todos nós, tal como o silêncio no momento certo, pode ser a pausa necessária para com segurança fazer a escolha correcta e justa deixando a paciência viver mesmo na porta ao lado. 

No caso da Itália, felizmente, existiu o descontente fascista Dino Grandi para a Itália sair do desastre a que ditador Mussolini estava a conduzir a sua pátria; nós, pessoas comuns, devemos ter de quando em vez a atitude do Dino Grandi ou ter alguém que nos tire a paciência para enfrentar a realidade adoptando outra conduta. O segredo é o equilíbrio entre a paciência e a impaciência. 

Saltando para a dimensão política nacional, somos uns cidadãos com muita paciência, aceitamos sem pestanejar todo o tipo de pessoa para gerir a "coisa pública". Ganham pouco, dizem eles, por isso coitados não são capazes de reformar o Estado, resolver os problemas estruturais na Saúde, na Educação, na Economia, na segurança e no âmbito social, obtando estrangular-nos com impostos directos e indirectos para injectar dinheiro nos vários pilares que suportam a sobrevivência de uma sociedade. Faltam médicos,  mais dinheiro para a rubrica dos serviços prestados por tarefeiros. A paciência não se esgota porquê? Não devíamos exigir melhores políticos? Sou só eu que fica impaciente perante este marasmo de políticas conjecturais sem tocar na raiz do problema? Somos um país de caçadores, por isso, achamos sempre que vai ser desta que acertamos na caça, a grande desgraça é que vão passando os anos, apostamos sempre na continuidade, acreditamos que é desta que vão olhar para os verdadeiros problemas, culpados pelo subdesenvolvimento da nação,  por conseguinte,  aplicando as medidas para os solucionar, contudo apontamos a mira e a caça foge ou nem aparece. Os compromissos afinal foram promessas. E estas nunca são vinculativas ao contrário dos compromissos que assumem carácter obrigatório. 

As eleições legislativas demonstraram uma tendência para se instalar a impaciência, votando em quem diz aquilo que é uma parte da verdade, recorrendo à vampirização da dor e dos problemas das pessoas, são os revoltosos contra a paciência instalada, onde se sentem discriminados e asfixiados num país que começa a ser só para alguns viverem. Os partidos moderados não estão a conseguir acolher nas suas medidas governativas as legítimas reclamações e necessidades destes impacientes que podem levar ao assassinato da democracia.

No poder local, as escolhas passam sempre pelo que é cómodo, temos medo da represália, a paciência é exercida em todo o seu esplendor. Insurgimo-nos no cochicho. Não vá chegar aos ouvidos do dono da "Câmara". 

Portanto, cumpre-se a paciência neste rectângulo chamado Portugal!

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