Paulo Núncio primeiro não sabia, depois soube mais ou menos, e agora já sabe toda a história da não publicação das estatísticas e do dinheiro que saiu de fininho para um paraíso fiscal. Numa primeira fase não assumiu a responsabilidade por essas falhas e despachou a culpa para o antigo director-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira, este por sua vez, informa a comunidade noticiosa que não é bem assim. Depressa chegou a fase da desculpa da iliteracia: não perceberam os despachos um do outro, a palavra visto. Ui que falta faz um dicionário na vida desta grei que ocupa os lugares cimeiros do quotidiano do Estado. Agora, para complicar a vida do insuspeito Paulo Núncio corre o zunzum que desapareceram os documentos que o banco enviou ao fisco sobre as ditas transferências. Não aguentou o jogo de cintura para se equilibrar no lamaçal em que se transformou o caso offshore e assumiu a responsabilidade política e pediu a demissão dos cargos que ocupa no CDS-PP. Por seu turno, o Passos Coelho não se importa que se investigue tudo a fundo. Acredito que o anterior Primeiro-Ministro esteja a ser sincero, nós todos sabemos que o antigo secretário de estado dos assuntos fiscais não pertence às fileiras do PSD.
Quem irá sair queimado é o partido da Assunção que anda com a crista muito levantada lá para os lados de Lisboa e assim sendo a secundarizar a todo o custo o candidato que está para ser, mas que o próprio ainda não tem conhecimento que será o concorrente escolhido para tentar governar a capital portuguesa. Por isso, a reacção explosiva e desconcertante do nosso querido Passos Coelho às palavras do não menos querido Primeiro-Ministro António Costa, uma vez que as culpas dos dez mil milhões de euros que fugiram para o paraíso deviam ter sido assacadas à Dona Assunção Cristas. Foi injusto o António Costa. O Passos Coelho tem razão para se sentir injustiçado, para já (ainda a procissão vai no adro)! Verdade seja dita, o Paulo Núncio foi um secretário de estado do anterior governo PSD/CDS-PP muito problemático: primeiro a lista VIP, agora esta coisa de não gostar de estatísticas e de só achar piada aos bolsos com moedas do médio contribuinte e sentir fobia aos bolsos com maços de notas de certos contribuintes. Meu Caro, deveria recorrer a alguém especializado para curar essas suas maleitas: o gostar de listar "pseudo" pessoas importantes e a fobia dos bolsos grandes com notas. Esta polémica surgiu como uma lufada de ar fresco para o "bochechinhas sorridentes" do Centeno e o querido António Costa e nesta primeira ronda de vertigem de acontecimentos, também o Passos Coelho respira da lufada fresca, apesar de disfarçar, é uma forma, momentânea de secundarizar os minutos de antena que o CDS tem a mais em relação ao PSD. A Assunção Cristas afirmou no debate quinzenal que este caso foi uma notícia plantada pelo Partido Socialista (o jornal Público já a tinha noticiado em Março de 2016). Ora pois quando não lhe convêm diz que é uma notícia plantada (com o mestre que tive, a Senhora deve ter muitos conhecimentos sobre o meandro das notícias plantadas). Ora, saber o conteúdo das sms's que lhe sopraram ao ouvido que dizem ser comprometedoras para o Mário Centeno, essa informação soprada já não é plantada. Ai Assunção, Assunção bem queria fazer Plof do caso dos dez mil milhões que deram à sola! Carece ser apresentada a justificação do Plof: foi a onomatopeia que o José Saramago utilizou no romance A viagem do Elefante para não explicar o desaparecimento de uma personagem que surgiu por acaso e que não teria importância para o desenrolar da ação e assim poupar o leitor a pormenores enfastiantes da sua ausência. Explicação feita! Prosseguindo, o que é certo é que os documentos enviados pelos bancos ao fisco a informar essas ditas transferências fizeram Plof, também. A bem da verdade, o Passos Coelho precisava que a polémica terminasse com a culpa, ou melhor, com a responsabilidade política assumida pelo Paulo Núncio, para que a lufada de ar fresco lhe continuasse a beneficiar. Deve já ter passado pelo pensamento do cantor frustrado: há um culpado, bem podia fazer Plof a história das transferências malditas para as offshores. Infelizmente, os salpicos da polémica chegaram à grande competente ministra das swaps benignas. Mas, ainda assim, o Passos Coelho continua mais ou menos sozinho e legitimamente não quer ser manchado com este erro grosseiro e o seu companheiro de coligação governamental, Paulo Portas, está a fingir-se de morto e a fazer com muita força Plof, Plof, Plof... Não podia deixar de referir o seguinte: indagada pelos jornalistas, numa feira dessas muito da moda, a "palavrosa" Assunção Cristas disse que o seu colega de partido demonstrou elevação de carácter na apresentação da demissão dos órgãos nacionais do CDS-PP e no assumir da responsabilidade política no caso. E retive também, no meio de tanto palavreado utilizado em Gouveia, que tem uma grande admiração por alguém que muito fez pela fraude e evasão fiscais. Assim de relevante que eu me lembro é da bonita lista VIP e mais nada que o senhor fizesse, mas isso sou eu que acho que fazem sempre pouco e que são uns mandriões os nossos governantes. A Assunção Cristas frisou que foi da autoria do "Núncio VIP" a medida de prolongar para doze anos a possibilidade de aos faltosos que transferiram dinheiro para os paraísos fiscais que não pagaram o devido imposto, ser ainda possível o pedido de o imposto devido ao Estado. Tenho dúvidas se foi assim ou se já estava em cima da mesa essa medida ou se foi uma transposição de alguma legislação europeia. Não posso esquecer-me de descrever um pormenor interessantíssimo: a colocação das mãos da Assunção Cristas à Merkel, nessa intervenção feita na feira de Gouveia! Repararam? A querida "palavrosa" não está a dominar a polémica e nem tem postura de liderança, tantas palavras para disfarçar, o indisfarçável incómodo. A Assunção Cristas achará que os portugueses acreditam que essa fuga de capitais é apenas um problema de não constarem nas estatísticas e consequente divulgação? Obviamente que está em falta o pagamento de impostos antes de o dinheiro seguir para o paraíso fiscal (que não é ilegal, o dito paraíso fiscal). Mais uma vez socorro-me ao José Saramago e ao seu milagreiro elefante que se ajoelhou à frente da Basílica de Santo António. Ou seja, se fosse mera questão de publicação de estatísticas sobre as transferências para os paraísos fiscais, a polémica já tinha sido esvaziada, era o milagre em curso. Com tantas palavras debitadas na feira de Gouveia, lá no meio teria a informação para lermos um comunicado do fisco a afirmar que foram cobrados os impostos devidamente às transferências para o paraíso fiscal. E à semelhança do Cornaca Subhro, que tocou na orelha do elefante, discretamente, para que se ajoelhasse em frente à Basílica para realizar o falso milagre a pedido a Igreja Católica; a querida Assunção enviava para todas as redacções de jornais e televisões o comunicado do fisco, mas nem um falso milagre consegue inventar. Não faça dos portugueses tolinhos, minha Senhora "palavrosa" da direita. Agora sou eu, uma das autoras deste blogue, a fazer Plof!