Automotora eléctrica para Beja, esfumou-se!!!
A meu ver, o foco desta decisão da CP está na ligação ferroviária até ao transbordo, continuar a ser feita com o recurso à automotora diesel.
Se as obras de melhoramento e electrificação da linha ferroviária do Alentejo não contemplavam o ramal de Beja, era expectável este desfecho: a secundarização da linha até Beja e consequentemente a confirmação da inconsideração de, para e com Beja (capital do Baixo Alentejo e população).
O desinvestimento da CP é intolerável, e mais, é incompreensível o não ajustamento e electrificação da linha, com a proximidade da operacionalização do Aeroporto em Beja.
Não é novidade, mais uma vez, a ilação que retiramos é a que estivemos e continuamos a ser pessimamente representados pelo poder político local (o eleito e o nomeado), são esses os grandes culpados. Assim sendo, porque é que tem de ser a CP importar-se em defender a melhoria do serviço ferroviário na região, se na iminência da região vir a ser prejudicada, os nossos representantes políticos locais encolhem os ombros, sobressaíndo o que todos sabemos, que não têm um projecto de desenvolvimento sustentado e integrado para o Baixo Alentejo. Caso tenham, é um erro grave, sendo Beja uma cidade intermédia, não atribuírem especial importância à articulação entre os meios de transporte rodoviários e ferroviários, visto as acessibilidades e a mobilidade inter e intra-regiões serem os agentes potenciadores do desenvolvimento económico, da inclusão social e da qualidade de vida.
Há uma réstia de esperança: a mobilização cívica interromper a subalternização que Beja, enquanto capital do Baixo Alentejo, paulatinamente tem sido votada.
Uma coisa é certa, Évora "passou-nos a perna", foi compensada, sem aeroporto fica com a automotora eléctrica e Beja com a automotora diesel e claro, com o aeroporto virtual, à espera da boa vontade dos Deuses do Olimpo, porque os Deuses Lusitanos (ANA, EDAB....) estão a "dormir na forma".
Por vezes, dou por mim a pensar: caso as infra-estruturas do futuro aeroporto fossem portáteis, Évora já as tinha vindo buscar, e o aeroporto seria uma realidade e estaria a funcionar há muito tempo. É algo que nunca poderei confirmar, enquanto não tivermos o aeroporto, é um pensamento que terei com frequência.
Espera-se que a viagem de automotora diesel não atrase muito e os transbordos não sejam atribuladíssimos e semelhantes ao da personagem do Eça de Queirós, Jacinto "Galião":
"(...) Sr. D. Jacinto!... Depressa! Depressa! que parte o comboio de Salamanca.
- Que no hay un momento, caballeros! Que no hay un momento!
Agarro estonteadamente o meu paletot, o Jornal do Comércio. Saltámos com ânsia: - e, pela plataforma, por sobre os trilhos, através de charcos, tropeçando em fardos, empurrados pelo vento, pela capa à espanhola, enfiámos outra portinhola, que se fechou com um estalo tremendo... Ambos arquejávamos. (...) sem um apito, o trem despegou e rolou. Ambos nos tirámos às vidraças, em brados furiosos:
- Pare! - As nossas malas, as nossas mantas!... Para aqui!...
Oh Grilo! Oh Grilo!
Uma imensa rajada levou os nossos brados. Era de novo o descampado tenebroso, sob a chuva despenhada. Jacinto ergueu os punhos, num furor que o engasgava:
- Oh! Que serviço! Oh que canalhas!... Só em Espanha!... E agora? As malas perdidas!... Nem uma camisa, nem uma escova!"
(Eça de Queirós, A Cidade e as Serras)