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Perspectivas & Olhares na Planície

«Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.» Paulo Freire

Perspectivas & Olhares na Planície

«Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.» Paulo Freire

Momentos...

A dor na alma não se vê?

Apetece chorar,
Choramos.
E a dor na alma não se vê?

Apetece rir,
Rimos.
E a dor na alma não se vê?

Nas lágrimas estão espelhadas a dor. 
A dor da tristeza. A dor da alegria. 
Sim. A alegria é feita de dor.

Apetecia-me chorar,
Chorei.
Lavei a dor da tristeza.

Apetecia-me rir,
Ri.
Lavei a dor da alegria.

E a dor na alma não se vê?

Boa Madrugada

Série: Isto vai doer

Recomendo o visionamento desta série que está disponível na plataforma RTP Play. Aceda aqui. Podia escrever um texto todo pipi para vos suscitar interesse para verem esta série britânica inspirada na experiência real de um medico recem-formado lançado aos leões num sistema nacional público inglês com o objectivo muito claro: levar ao esgotamento físico e mental os poucos médicos que ainda conseguem sobreviver à escravidão horária num hospital público. Apenas digo: "isto vai mesmo doer". São carne para canhão, o sonho de ser médico torna-se a sua sepultura (vão perceber esta minha afirmação) e o pesadelo da família. O humor típico inglês mesmo assim aparece quando não se espera, a missão de servir supera tudo até o menosprezo que o SNS britânico sofre quando é chamado para intervir quase nunca falha. Gritos, pernas abertas, gente rude de ambos os lados (médicos e pacientes) sem pachorra para a gentileza entre pares. A tinta na tela  "serviço de saúde público britânico" vos parecer igual ao nosso SNS, certamente será pura coincidência.

Vejam. Depois digam se gostaram ou se detestaram. 

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P&O Curtas 93: Ah Leããão

Quem é verdadeiramente baixo alentejano comunga desta afirmação do reeleito presidente da câmara de Loures. António Costa é um oportunista que ainda não se cansou de lançar a sua fragrância de oportunismo em Portugal. Mas alguém sente a falta deste interesseiro? Só quem gosta de ser manipulado. 

Se encontrasse o Senhor Ricardo Leão dava-lhe um aperto de mão à Marcelo. 

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A paciência nunca nos tem faltado

Diálogo retirado da série de televisão: A noite longa - a queda de Mussolini 

Rei Vítor Emanuel III: — Quando era pequeno, odiava caça. Pensava que era um passatempo primitivo. Certa vez, perguntei ao meu tutor: visto que descobrimos a agricultura, porque insistíamos em matar os animais? "Para demonstrar coragem", respondeu ele. Passei a odiar ainda mais a caça. O tutor não percebia nada. Sabe o que conta mesmo na caça?

Dino Grandi: — A precisão, o sangue-frio.

Rei Vítor Emanuel III: — O que conta é a paciência. Que é a mesma virtude de que os soberanos precisam. Só quando percebi isto é que comecei a gostar deste passatempo.

Dino Grandi: — Não é altura de ser paciente...

Rei Vítor Emanuel III: — Pedi-lhe um apoio constitucional. Não mo deu. E, agora, teremos de esperar por outra ocasião. 

Dino Grandi: — Qual? Os anglo-americanos estão a subir a península. Os alemães descem a norte. O nosso Exército deve agir,  e depressa.

Rei Vítor Emanuel III: — Só a mim me compete fazer essas considerações. 

(Aponta a mira, acerta em cheio no pássaro.)

Já está. Apanhei-o. Estás a ver. A paciência é o que mais conta. Quanto maior for a presa, mais paciência devemos ter. Mas se o senhor não a tem, encontrarei alguém que a  tenha.

A história diz-nos que o Dino Grandi não quis ser paciente e forçou a destituição de Mussolini no conhecido Grande Conselho Fascista extraordinário. O que se seguiu é conhecimento de todos, a disciplina de história deve ser sempre revisitada para com paciência dar respostas às nossas dúvidas de um pretérito perfeito a teimar ser imperfeito.  

A paciência mora na casa ao lado. Por vezes, ainda bem que assim é. Sermos impacientes permite dar um ponta pé no status quo. Verdade seja dita a impaciência surge de muitos anos de muita paciência. Quando atinge o limite de tanto esperar, somos radicais, fugindo do medo, decidimos mudar de vida. Essa mudança pode consubstanciar-se em grandes decisões para a vida: divórcio, casamento, trocar de casa, seguir outra profissão distinta, largar a cidade e ir para uma região rural ou despedir aquelas amizades que mais não são agentes tóxicos. Também as pequenas decisões chegam depois da bateria da paciência se esgotar como: ir para o ginásio, ter horários para fazer o que quiser, ir aprender uma língua estrangeira, viajar pela Europa de auto-caravana, mandar construir uma piscina.

Durante a corrente de  sucessivas palavras escrevi: "fugindo do medo", quem não tem paciência contraria o medo interior de avançar para concretizar um objectivo difícil de alcançar, só assim é possível mudar as trajectórias das rotinas profissional, familiar ou pessoal. É avassalador o medo, tanto pode ser repressivo, como impulsionador para dar o salto no "escuro" que nos trará a magia do nascer do sol à nossa vida.

Porém, não só "os soberanos", como está referido no diálogo entre o Rei Vítor Emanuel III e  Dino Grandi na série, precisam desta virtude, a paciência utilizada com bom senso é fundamental para todos nós, tal como o silêncio no momento certo, pode ser a pausa necessária para com segurança fazer a escolha correcta e justa deixando a paciência viver mesmo na porta ao lado. 

No caso da Itália, felizmente, existiu o descontente fascista Dino Grandi para a Itália sair do desastre a que ditador Mussolini estava a conduzir a sua pátria; nós, pessoas comuns, devemos ter de quando em vez a atitude do Dino Grandi ou ter alguém que nos tire a paciência para enfrentar a realidade adoptando outra conduta. O segredo é o equilíbrio entre a paciência e a impaciência. 

Saltando para a dimensão política nacional, somos uns cidadãos com muita paciência, aceitamos sem pestanejar todo o tipo de pessoa para gerir a "coisa pública". Ganham pouco, dizem eles, por isso coitados não são capazes de reformar o Estado, resolver os problemas estruturais na Saúde, na Educação, na Economia, na segurança e no âmbito social, obtando estrangular-nos com impostos directos e indirectos para injectar dinheiro nos vários pilares que suportam a sobrevivência de uma sociedade. Faltam médicos,  mais dinheiro para a rubrica dos serviços prestados por tarefeiros. A paciência não se esgota porquê? Não devíamos exigir melhores políticos? Sou só eu que fica impaciente perante este marasmo de políticas conjecturais sem tocar na raiz do problema? Somos um país de caçadores, por isso, achamos sempre que vai ser desta que acertamos na caça, a grande desgraça é que vão passando os anos, apostamos sempre na continuidade, acreditamos que é desta que vão olhar para os verdadeiros problemas, culpados pelo subdesenvolvimento da nação,  por conseguinte,  aplicando as medidas para os solucionar, contudo apontamos a mira e a caça foge ou nem aparece. Os compromissos afinal foram promessas. E estas nunca são vinculativas ao contrário dos compromissos que assumem carácter obrigatório. 

As eleições legislativas demonstraram uma tendência para se instalar a impaciência, votando em quem diz aquilo que é uma parte da verdade, recorrendo à vampirização da dor e dos problemas das pessoas, são os revoltosos contra a paciência instalada, onde se sentem discriminados e asfixiados num país que começa a ser só para alguns viverem. Os partidos moderados não estão a conseguir acolher nas suas medidas governativas as legítimas reclamações e necessidades destes impacientes que podem levar ao assassinato da democracia.

No poder local, as escolhas passam sempre pelo que é cómodo, temos medo da represália, a paciência é exercida em todo o seu esplendor. Insurgimo-nos no cochicho. Não vá chegar aos ouvidos do dono da "Câmara". 

Portanto, cumpre-se a paciência neste rectângulo chamado Portugal!

Serpa: A foice e o martelo caíram

Boa semana

Foi preciso "uma" Picareta para partir a foice e o martelo. Foi épica a derrota. Finalmente, o ar vai estar mais respirável, estará menos contaminado pelas partículas e poeiras russas.

Cuidado com azia, pode fazer muitas baixas na comunidade comunista serpense. Os cata-ventos estão a direcionar os guarda-chuvas para o novo vento que sopra. Vento socialista. Espertos, aliás o mundo não é dos inteligentes, é sim dos espertos. 

Tenho muita pena da CDU em Serpa, eu queria chorar mas não posso.

Como correu na vossa freguesia ou município? Venceu quem queriam que vencesse? Contem tudo.

Desejo a todos vós uma semana com uma boa digestão partidária. Há poucos bastiões, por isso a rotatividade no poder local tornou-se normal. Só mesmo em Serpa, uma província russa, vai ser um drama nos primeiros tempos ver outros a governar aquilo que parecia que era pertença exclusiva destes Marxistas-Leninistas com tiques Estalinistas. 

 

 

O Fernando Pessoa fisgou a "Marena"

Screenshot_20251008-163336_Samsung Internet.jpgPara estes lados do meu Baixo Alentejo é muito comum dizer-se: "dói-me a espinha", quando o que lhe dói é a coluna vertebral. Na escola aprenderam o corpo humano, mesmo quem nunca se tenha sentado na carteira a olhar para o quadro negro de ardósia sabe que não é espinha aquilo que inflige dor, dizem por hábito. São esses hábitos linguísticos que mantêm viva a memória oral e as peculiaridades das gentes de um interior esquecido. 

Mas, a "Marena" num assunto de Estado, com as suas vastas habilitações literárias, deveria estar a altura da sua função num órgão de soberania nacional e não utilizar termos populares desnecessariamente. Mesmo sendo metafórico, no entanto, os Ministros têm ossos, não têm espinhas,  tal como a "Marena". Se os queria atingir deveria ter dito a expressão: o Ministro não tem coluna vertebral. Aliás, interpretando à letra "os ministros sem espinha" de facto escreveu uma verdade: o pedido de reembolso do repatriamento foi sem dificuldade, sem complicações, sendo óbvio que conhece o Regulamento Consular (Decreto-lei n.° 51/2021)  e certamente assinou uma declaração a comprometer-se o pagamento ao Estado das despesas consulares para reverter a dita detenção e retorno a Portugal. 

A "Marena" quis ser poeta, é impossível não trazer à liça o primeiro verso da Autopsicografia do imortal Fernando Pessoa: "o poeta é um fingidor", o espanto foi fingido, pois  sabe a deputada única do bloco de esquerda quando aceitou ser repatriada, logo não foi presente a Juiz, Israel não iria pagar os custos do regresso. Mais, não sendo uma missão diplomática e/ou oficial, mas sim pessoal, o Estado não é obrigadado a custear as despesas, sendo visto como um auxílio extraordinário tendo em vista as circunstâncias e os avisos, não faz sentido a azoada dos seus sequazes fanáticos, muito menos este estado de alma da "Marena": "esperava "um bocadinho mais de decência e dignidade" das instituições portuguesas". 

Vou pedir socorro ao Fernando Pessoa, não para ser repatriada,  o meu activismo e acções de voluntariado cingem-se à área geográfica de duas regiões de Portugal — se não somos para os nossos, muito menos somos para os outros —, é para ir buscar os sublimes versos que vestem a "Marena" da cabeça aos pés (os três primeiros versos da primeira estrofe do poema Autopsicografia

O poeta é um fingidor

Finge tão completamente 

Que chega a fingir que é dor

(...)

Decência? Queria que os contribuintes "balhassem com a mais feia", enquanto trilhou o caminho de auto-promoção para resgatar a glória de vendedores de utopias barradas de banha da cobra, incitando à divisão e extremar de opiniões e comportamentos que outrara lhes valeu votos traduzidos em muitos deputados. 

Paga do teu bolso, Marena. 

Se fosse para sepultar o Bloco de Esquerda, podias contactar-me para pagar as despesas da tua aventura, pagava com muito gosto; como não é, pagas tu! Não te esqueças de pedir factura, para entrar nas despesas gerais do IRS. 

O Fernando Pessoa sem saber fisgou a Mariana Mortágua, a "fingidora".

 

 

 

 

 

Boa semana: três imagens sob escrutínio

Venha iniciar a semana com imagens deveras engraçadas que de tão verdadeiras, parecem manipuladas pela IA. 

Então que comece o desfile:

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Comentário: Não sei a que heróis se refere a dona do cartaz, mas os Valentes por acaso conheço bem. São uma família catita.

(Obs: os activistas gostam muito deste recurso expressivo: hipérbole. São uns exagerados, bebem do populismo também)

Screenshot_20251006-195856_Samsung Internet.jpgComentário: Não faço a mais pálida ideia de quem é a Senhorita Regina. Eu nunca fui apreciadora dos chocolates Regina. Se calhar a Senhorita foi baptizada com este nome por causa da paixão que a mãe terá tido pela personagem inesquecível da Rainha da Sucata interpretada pela popular actriz Regina Duarte, entretanto caída no esquecido pela sua escolha partidária. Tantas portuguesas nascidas nos anos 70 e 80 têm os nomes das actrizes brasileiras. Muitas mesmo.

Agora a sério: espero que o pé da Regina se cure rápido, há mais flotilhas para festejar incentivar e apoiar.

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Comentário: Não há pudor, o mínimo de sentido de Estado, o respeito pela comemoração de uma data importante na história de um país por parte dos convidados? Não é aceitável aproveitar um momento formal e exclusivo de uma nação, neste caso a data da implementação da República, para se fazer activismo político. Quem é aquela senhora que enverga ao ombro o lenço palestino? Aproveitou a meia hora de fama para passar por cima do protocolo ao qual estas datas formais têm de seguir por se tratar da fita do tempo histórico de uma país para fazer propaganda dos seus interesses pessoais e/ou profissionais bem como das suas convicções mesmo que sejam com intenções nobres. Mal comparado era alguém aparecer com o cachecol do Benfica ao pescoço e no momento protocolar de içar a bandeira portuguesa gritar a plenos pulmões: SLB, SLB, GLORIOSO, SLB. Falta de chá, irra.

Desejo a todos vós uma semana com boas imagens para serem elogiadas, se for o caso, carreguem no tom depreciativo. Chateia esta nova era da falsidade sob a capa do politicamente correcto. Destapem esta hipocrisia, pelo menos esta semana.

 

 

 

Já está estacionada uma Chaimite no Aeroporto de Lisboa?

(Alerta Ironia)

Esta história toda tem uma certa (des)graça. Só falta estar uma chaimite à espera da Mariana Mortágua no aeroporto de Lisboa para ser recebida em apoteose, tal como aconteceu ao Álvaro Cunhal no regresso do exílio,  em Maio de 1974.

O líder carismático comunista discursou, em cima da chaimite, para a multidão que o foi receber; a discípula de Francisco Louçã não terá uma multidão, certamente será um grupinho de pessoas reunidas para dar as boas-vindas, por isso, mereciam umas palavrinhas em cima de uma viatura militar blindada. 

 

Nota Bene:

1. Os cidadãos portugueses estão a chegar, pelas imagens, aparentemente estão bem de saúde. Concorde-se ou não com esta "viagem" para uma zona com medidas muito restritivas no que toca ao apoio/auxílio humanitário a uma população confinada e oprimida por razões políticas de luta por território, o Governo e os serviços consulares fizeram o que tinham de fazer para que os cidadãos portugueses fossem repatriados. 

2. Todos os activistas reclamam das condições "oferecidas" e dos maus tratos que foram sujeitos durante a detenção, normal, meus caros. As Forças de Defesa de Israel (IDF) aprenderam estes métodos de tortura com as SS ao serviço do Hitler. 

 

E-lar amargo e-lar

1. O que me apraz escrever sobre o programa e-lar engendrado pelo ministério liderado pela bejense que pouco ou nada 'puxou" para o distrito mais desprezado do país. Evidentemente, tal cenário acontece(u) com o consentimento da população, cuja a maioria cegou com a desinformação imposta por um determinado partido com muitas ligações à Rússia. 

2. Inicialmente, estas verbas vindas da União Europeia, do famigerado Plano de Recuperação e Resiliência de Portugal, podiam abranger a substituição de frigoríficos e máquinas de lavar roupa por uns com maior eficiência energética. Alguém terá ido à casa de banho para tomar conselho resultando, assim, numa reviravolta nos critérios para aceder a este apoio. Não sei como não há vozes mais altivas a denunciar esta clara discriminação em relação ao gás. Sob a batuta insidiosa "electrificação em casa", o team electricidade passou a perna ao team gás. 

Esqueçam o frigorífico ou a máquina de lavar nova. Mas, imaginem esta situação: a promessa política de electrificação foi concretizada passados quarenta e tal anos, finalmente, o Ti João tem electricidade a entrar pela porta do seu monte, única morada em toda a sua vida, situado na zona mais esquecida e profunda do seu Paços de concelho, por isso tem um frigorífico a gás e pretende trocá-lo antes do Natal, qual seria a resposta dos serviços responsáveis pela análise das candidaturas a este subsídio. Não sei se os excelentíssimos redactores do regulamento sabem da existência de frigoríficos a gás em muitos lares portugueses, perante este exercício hipotético, será que o Ti João não era merecedor de receber o vale para ir adquirir um frigorífico ligado à corrente eléctrica? O conceito do programa e-lar não seria nada beliscado, pelo contrário, preenchia sem espinhas a missão do programa: restringir o uso do gás. 

3. "Maria da Graça Carvalho está satisfeita com a adesão dos fornecedores ao programa que procura aumentar a eficiência energética das famílias portuguesas. “Superou as melhores expectativas. Não foi só a minha conterrânea, também eu fiquei espantada com o volume de fornecedores inscritos. Depois lembrei-me do estudo da OCDE que nos avisou da fraca proficiência em literacia nos descendentes de Camões com idades compreendidas entre os 25 e os 65 anos. Isto é, em cada dez portugueses, quatro só conseguem compreender  textos simples e curtos. Deste modo, a procura por  parte dos donos de lojas de electrodomésticos a este programa era expectável. Quando a Maria Patrocínia chegar com o cheque para descontar na loja "Américo e filhos", esta e os outros aderentes vão torcer a orelha por terem sido uns baldas na escola, preferindo dar umas passas no cigarro (ou ganzas) do que responder a perguntas de interpretação de texto ou ir descobrir as maravilhas dos chupões em vez de ficar com a boca seca nos exercícios propostos de leitura em voz alta. E pior, o pagamento dos cheques não deve ser logo automático, era um milagre se assim fosse, vão arrepender-se como uma Madalena arrependida por terem obtido o ensino obrigatório através do flagelo que foi/é o Novas Oportunidades, ou em alguns casos terem feito o 9.° naquelas formações do IEFP com bolsa e subsídio de almoço (conheço exemplos que devem ter dois ou três diplomas do 9.° ano), ficam a saber nada e algum conhecimento que tinham, ficou esquecido para sempre. Ficam sem os fornos eléctricos e o dinheiro irá cair, com sorte, no dia do Nascimento de Jesus. 

4. Descarborizar as casas dos portugueses mais vulneráveis, diz a Ministra se tivesse o cabelo comprido seria a Jessica Rabbit portuguesa: "São elegíveis todos os equipamentos eficientes, elétricos, com classificação A. Claro que são equipamentos não muito caros, porque se trata de um programa para pessoas carenciadas e vulneráveis. Não estamos a falar em bombas de calor. Precisamos de um banho de realidade sobre o que é o nosso país". Ora claro, as bombas de calor gastam menos energia, logo a factura da luz seria mais baixa, não é? Qualquer das formas essas famílias mais carenciadas não perdem muito tempo com os tachos e panelas, sabe porquê, minha querida? Porque vão buscar as refeições ao take away de um Pingo Doce qualquer da vida (e a outros  um pouco especiais que não me apetece estar a desvendar, chega de ser a má da fita), também é muito frequente pegarem no carrinho movido a combustível fóssil para irem jantar a paparoca da mãe. Como a comida fast food não presta se for reaquecida no forno, maneiras que os comilões das empresas fornecedoras da magia de ligar o interruptor e exclamarmos: "habemus lux" não irão aumentar muito os lucros para distribuir pelos seus accionistas.

Em relação ao "banho de realidade", não sei quais são os gostos da doutora, eu cá gosto de esfregar-me debaixo do chuveiro – água aquecida pelo monstro poluente baptizado de esquentador a gás, ao menos é daqueles inteligentes – com gel duche comprado na farmácia. Eu sei quem precisa de levar chuveiradas de realidade, e não sou eu, nem que vai perder tempo a ler estas linhas!

5. É um aviso à navegação: de facto o e-lar  é para todos, todavia quem tem rendimentos médios estará sempre em vantagem, dado que a instalação destes equipamentos eléctricos não se resume à montagem, é necessário proceder à renovação da rede de distribuição, neste caso passar a ser eléctrica. Não farão essa adaptação gratuitamente. No regulamento prevê que os mais carenciados (residentes em bairros que foram requalificados com o PPR e os beneficiários da tarifa social de electricidade) recebam cem euros pela instalação do forno e placas eléctricas, por exemplo. Não sei a quem pediram orçamento, mas fazer uma instalação nova não tem este preço. Era bom era. Sem mencionar a questão de, possivelmente, ser necessário proceder à mudança da potência contratada junto do fornecedor da luz. A Deco alertou para a falsa poupança no que toca à substituição do esquentador a gás pelo termoacumulador. Façam bem as contas, se têm dinheiro disponível para os encargos extra para usufruir desta iniciativa governativa. Arranjarem mais uma dor de cabeça, não será de todo agradável.  Não li no regulamento nenhuma alínea a fazer referência à comparticipação de medicamentos em caso de dor cabeça forte, muito menos financiar o pagamento de uns dias de internamento num hospital em virtude do coração não ter resistido à factura apresentada pelo electricista certificado. Será triste querer estrear o forno e não conseguir assar o frango do aviário como é de costume nos almoços de família com a sogrinha todo o santo domingo. Rezar não será solução para a embrulhada a que muitos agregados familiares estarão envolvidos com a adesão à iniciativa e-lar. Nem menciono a crise de choro quando os olhos virem o total para pagar com os consumos reflectidos da placa de indução, do forno eléctrico ou do termoacumulador. 

Ah já me ia esquecendo,  mesmo à alentejana, as despesas podem aumentar se não tiver tachos adequados para a placa de indução. É só vantagens, na graça de Deus, eu a ser religiosa quando sou agnóstica.

6. Querem as habitações 100% ligadas à electricidade, parecem um bulldozer a terraplanar as escolhas e os interesses pessoais dos contribuintes portugueses — seguindo à risca a política energética definida pela UE –, ou é com ficha na tomada ou é com ficha na tomada. Não vivemos verdadeiramente em pobreza energética como estes políticos "especialistas" fundamentalistas em ceder ao lobbing, vivemos, antes, numa pobreza democrática, em que nos impõem as decisões ideológicas deles, sem opção de escolha, guiam-nos até ao abismo sempre motivados pelos interesses dogmáticos dos que mandam efectivamente no mundo empresarial e geopolítico. É caricata a justificação dada pela Ministra do ambiente de seguirmos as linhas da seita da energia (renovável): "Mas também por uma questão de proteger em relação ao preço, se continuamos dependentes de gás, continuamos completamente vulneráveis a oscilações exteriores, a guerras, não temos gás natural, temos todo o potencial de energias renováveis, para produzir eletricidade, para baixar o preço, quando as rendas garantidas estão a começar a acabar (...)".  É caricata no sentido de importarmos quase a totalidade da electricidade consumida à Espanha, pagarmos taxas para financiar a tal energia renovável, taxinhas para pagar custos que as empresas no ramo energético não querem pagar, por isso, somos dos países da UE com a factura mais cara. Aliás, em Portugal, é tudo caro da água ao sal, somos um país pobre, subsídio-dependente da UE, transferindo esse modo de viver para a sociedade portuguesa, ou seja, os portugueses beneficiam de apoios directos e indirectos, tornando-nos num país com elevada carga fiscal, enorme quantidade de créditos ao consumo (há quem compre malas a crédito); em consequência dos salários muito baixos e o nível básico de vida ter encarecido, os incentivos do Estado servem para continuar com a água pelo pescoço a bater na boca e assim respiramos um pouco. O Euro cimentou uma característica muito nossa: a pobreza crónica, porém está mascarada esta nossa condição com as futilidades promovidas pelos presidentes das câmaras municipais e as megalomanias estruturais pouco estruturantes que favorecem apenas uma diminuta parte da população.

Não quero terminar sem mencionar o seguinte: há uma tentativa de nos convencer que é mais seguro a rede eléctrica do que o gás. Se há fugas de gás, também é verdade que existem curtos circuitos que podem resultar numa tragédia. 

Sem mais delongas, nós temos de fazer a transição energética e mais nada. Batem no peito que são democratas, imagino se não fossem.