Olhar Musical para Hoje # 75
Quintou!
Despedimo-nos então da última quinta-feira deste mês de Abril ao som destas melodias. Que melodias... Ora ouçam:
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Quintou!
Despedimo-nos então da última quinta-feira deste mês de Abril ao som destas melodias. Que melodias... Ora ouçam:
"Havia um velho que julgava
Que a porta da rua estava parcialmente fechada
Mas umas ratazanas enormes comeram o seu casaco e os seus chapéus
Enquanto aquele velho frívolo dormitava.
Edward Lear
Sou de outra geração. A geração que nasceu sentada numa democracia a caminhar com passos pouco seguros em terra batida. Nasci com o FMI carimbado na fralda.
A memória ficou perdida na penumbra para aqueles que contribuíram para a segunda bancarrota que se viveu nos anos 80: não foi apenas o contexto económico externo com a subida especulativa do preço do petróleo ou internamente devido à explosão social com a vinda de portugueses das colónias, foi sobretudo as políticas levadas a cabo com o PREC e as promessas eleitoralistas dos sucessivos governos provisórios que lançaram a terra para dentro do poço cheio de água no qual Portugal estava caído. Para quem viveu em carne viva todas as restrições injustas reside muita mágoa. Podem passar muitos anos, no entanto, há sempre uma réstia de desgosto que fica encrostada no nosso mais profundo íntimo. Não resvalou para a amargura devido ao facto de a mesquinhez dos políticos ser o bálsamo para não perdermos tempo em viver amargurados por causa deles.
Há um sabor de injustiça para quem nunca deixou Portugal para trás nos idos anos do Estado Novo, permaneceu estóico a trabalhar dia a dia à luz do dia para se fazer "cumprir" Portugal de Fernando Pessoa.
É sempre assim. Para quem ficou ou fica nunca há o mínimo de respeito, há sim atitudes de enorme desprezo excluindo-nos das premissas para encaminhar Portugal no rumo do desenvolvimento. A indiferença faz pausa quando há anos eleitorais.
Não se espera que quem não busca a emigração seja mimado com honras régias. Simplesmente quer fazer parte da solução para a construção de um Portugal melhor.
Não é desdém para quem emigra, pelo contrário cada um segue e persegue a sua quimera de país e ideal de condições de vida para si e família. Porém, o constante desvalorizar de quem faz a escolha de continuar no país que apesar de tudo é a nossa pátria, amiúde vão conotando de nunca sairem da zona de conforto. Enfurece-me. É mais fácil ir e de uma latitude longínqua enviar mensagens de como se deve governar um país e muitas vezes zangam-se pela pouca participação cívica dos que vivem cá. Antes de emigrarem, como era? Era cidadãos exemplarmente participativos? São prosaicos. Não entendem que é mais difícil ser-se persistente, permanecer quando "fecha o pano", sofrer na pele as agruras do sistema oleado pelo domínio da medíocre corja governativa invariante que maniateia o progresso do país e constrange a vida do cidadão português. Decidir não abandonar a causa, não é para todos. É só para alguns.
O 25 de Abril de 1974 foi um golpe militar para terminar com o Estado Novo que ficou enterrado no mesmo segundo em que o António de Oliveira Salazar foi hospitalizado, astutamente Marcelo Caetano tentou ressuscitar um regime moribundo com um discurso falacioso que iria fazer a transição da ditadura para a democracia. A sede de poder muitas vezes não acompanha a capacidades intelectuais e técnicas para criar uma base de apoio alargado para apoiar e sustentar a sua liderança quando se vivia uma enorme contestação contra a insana e inexplicável guerra colonial em que as antigas colónias tinham o apoio armado da Rússia, por exemplo.
A celebração da efeméride sempre foi vivida por mim de forma distinta, longe do folclore que o PCP tornou a celebração deste marco histórico da história contemporânea portuguesa. Há uma comunização da Revolução dos Cravos. Que a mim em vez de suscitar interesse em participar, sempre me afastou. Vivo esta ocasião no recato de casa a ouvir principalmente aqueles que contaram sempre os dois lados da vivência sob a égide de António Salazar/ Marcelo Caetano e depois os anos loucos pós-25 de Abril para sem imposição formar a minha opinião crítica sobre estes momento históricos.
A forma antiquada como é celebrada seguindo uma estrutura protocolar parada no tempo com os discursos tirados a papel químico dos outros anos e que ninguém ouve ou quem ouve por mais que tente não consegue ouvir até ao fim, portanto não vão ficando para a história.
Não há abertura para as escolas, para os cidadãos anónimos fora do espectro político participarem na cerimónia institucional desta data que marca o nosso calendário. É uma festa em circuito fechado onde só cabem quem anda nos corredores do Parlamento e as tais figuras que criticam quem não coloca o cravo na lapela. Fora desta bolha está a ficar robusto o significado de não ser um dia onde tiram do museu as chaimites e distribuem os cravos ao som da Grândola Vila Morena, para ser um dia de descanso, que pode contribuir para umas mini-férias quando o feriado está encostado ao fim de semana. E engane-se que são só os jovens que pensam assim, até pessoas que participaram activamente na Revolução se desinteressaram pelo ritual pitoresco e gasto a que chegou o nosso dia da liberdade.
O Partido Comunista Português até prefere que este molde bacoco permaneça. Estou curiosa quando deixar de ter assento na Assembleia da República, deverá querer que abram excepções para que seja possível a subida ao púlpito para vincar que o 25 de Abril é do povo e principalmente, património escriturado em nome do Partido Comunista Português.
As palavras-chave do 25 de Abril de 1974 são sem excitação: fim da guerra colonial, Salgueiro Maia, democracia. Herda-se esta postura de ver o dia da liberdade sem as amarras da imposição de uma ideia colectiva única. Despojada de artifícios que nos tolhem o pensamento modificando a realidade dos factos.
A deputada do PCP, Paula Santos afirma que: "Há quem procure branquear o que é o fascismo. Não o permitiremos."
Em contraposição afirmo taxativamente que há quarenta e oito anos que procuram branquear o que é o comunismo.
O golpe de estado vingou e desde o minuto seguinte houve uma campanha orquestrada pelos militares de esquerda para agarrar esta janela de oportunidade para passar à prática o comunizar do 25 de Abril. É abjecto instruir a opinião pública que o PSD um partido situado à direita do nosso espectro político, seja um viveiro de fascistas. Por defenderem a iniciativa privada são contra a democracia. Que não têm direito a festejar o fim da ditadura. Os comunistas são donos e senhores, uns latifundiários ironicamente, da Revolução de Abril.
O ano de 2022 foi um ano de viragem, na esperança que se consolide: falou-se mais de Salgueiro Maia.
Anos a fio a comunicação social patrocinou a marginalização da grande figura do 25 de Abril, Salgueiro Maia, dando palco às delirantes e vaidosas palavras de Otelo Saraiva de Carvalho. Ao longo deste tempo percebi que o Otelo tinha o dom da ubiquidade. Fez tudo, esteve em todo o lado, em resumo fez a revolução completamente sozinho.
O PCP, raposa velha, aproveitou para contextualizar as suas acções e movimentações dos seus apaniguados na clandestinidade, sendo que havia anos que se preparava no seio das forças armadas a "decapitação do regime." Logo, no xadrez da conquista da democracia, maliciosamente houve uma sobrevalorização do papel dos clandestinos comunistas. Ou seja, a clandestinidade serviu para estudarem e criar ligações ao mundo soviético com o fim do Estado Novo, para estarem preparados para instaurar o regime ligado à Rússia e integrar a URSS. E nada mais do que isso.
(Agradeço ao Mário Soares, apesar de certos comportamentos que mancharam a minha total admiração enquanto político, de nos ter colocado nos trilhos da democracia evitando a desgraça que estava para chegar de passarmos para um regime comunista.)
Quando esta luta de implantar a democracia está quase nas cinzas, é que a honradez de alguém que nunca se associou à disputa do troféu da revolução dos cravos começa a ter alguma visibilidade a sua ética e idoneidade do seu carácter.
Enquanto o PCP tiver este ascendente sobre esta página da nossa história, tardiamente iremos passar à página seguinte que já não está em branco, todavia a excessiva influência da ideologia da extrema esquerda na comunicação social, potenciado pelo desligar dos cidadãos pelos assuntos políticos vão conseguindo atrasar o debate sobre a nossa actual democracia. Na página que não conseguimos ler está a necessidade de reformar o nosso sistema eleitoral, o facto de a democracia no presente precisar de defesa constante, que as instituições democráticas não podem ser consideradas um dado adquirido. A democracia precisa de uma defesa firme contra os slogans vazios de conteúdo, no entanto, com mensagens superficiais e vagas, porém muito poderosas que suscitam a atenção das pessoas.
Acho que estamos de acordo com este facto: a democracia é um regime que está sempre a ser desafiado e ameaçado pelas forças políticas extremistas e populistas. Quando um partido de extrema-esquerda continua a estar no centro das decisões internas a nível nacional e regional (Alentejo) e com a ascensão de um partido de extrema-direita que vive da imagem do seu líder a História ensina-nos que devemos estar muito atentos se quisermos preservar e defender a democracia de hoje.
"O meu 25 de Abril" deveria ajudar a pensar o presente e o futuro do meu Portugal democrático. Era essencialmente isso. Mas há muitas pedras na engrenagem que não permitem passar à fase seguinte, gostaria que fosse só por causa dos partidos extremistas, contudo este Partido Socialista tem sido um factor obstaculizante nesta fase em que o período democrático se sobrepõe ao período ditatorial.
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Parte I: Olhar: 25 de Abril 1974 / Perspectiva: 40 anos de Democracia
"Somos aquilo que conseguimos ser, não mais que isso."
Eunice Muñoz
As amêndoas e os coelhos de chocolate já lá vão a caminho do País das Maravilhas, quiçá. Agora é mesmo copiar o macaquinho: comer muitos morangos para desintoxicar do açúcar que fizemos o obséquio de acolher nas gavetas do nosso corpo humano.
O que aconteceu neste fim de semana de gulodices, ficou neste fim de semana. Já passou. Agora é passar para a fase dos morangos. Comer sempre morangos "solitários" nada de trazer o chantilly e o açúcar para desencaminhar o morango. Está bem? O morango não merece. Ainda vos bate à porta uma comissão do partido Os Verdes por andarmos a desvirtuar a essência de como se deve comer o morango.
(Os Verdes ainda existirão?!)
Uma excelente semana para todos vós.
P&O na Planície: Bom Fim de Semana 119 = Páscoa Feliz para todos vós.
Que tenhamos um dia em família bonito, mas que se lembrem de regar as "flores" nos outros dias normais que são os verdadeiros dias em que vivemos todas as vicissitudes que procuramos e/ou a vida nos presenteia. É nos outros dias sem o carimbo das festividades mediáticas que precisamos de estar mais acompanhados para ajudar ou simplesmente estar sentado na cadeira vazia que certamente estaria à nossa espera. Não é preciso falar, é preciso sim estar. Estar sempre na gargalhada, na dor, na insegurança, sobretudo na vida de um dos outros. Viver a nossa vida acompanhando a vida de quem é nossa família.
Páscoa Feliz. Cuidado com os excessos. Não queiram viver o que não se viveu nos dois últimos anos de pandemia. As diversões que ficaram canceladas são como o sono, nunca se recuperam as horas que ficaram por dormir.
O Parlamento eleito mantinha os poderes, os ministérios passavam a ter uma gestão profissional sem a entourage néscia de ministros e secretários de estado, consequentemente terminava a figura de Primeiro-Ministro, bastando-nos ter um Presidente da República a fiscalizar e coordenar a actividade de todos os ministérios de acordo com as directrizes decididas pelo Parlamento. As câmaras municipais ficavam com a execução de todas as tarefas que esses ministérios enviariam através de notas, não de dinheiro, mas informativas por correio interno. Se é para termos um Primeiro-Ministro corta-fitas, é sempre preferível ter unicamente o Presidente da República para utilizar a "tesoura para cortar a fita". A designação, Presidente da República, granjeia mais notoriedade e prestígio junto do cidadão e na representação da nação junto de outros países.
Nesta nova reorganização da estrutura governativa seria uma boa oportunidade de haver poupança no orçamento direccionado para suportar a máquina governativa central que é um sorvedouro de dinheiro dos impostos dos cidadãos, para além de finalmente elegermos deputados para governar o país.
A regionalização foi declinada no referendo, porém este António Costa insiste em dividir em pedacinhos aquilo que nunca se quis que acontecesse. A descentralização que quer implementar não é mais do que tornar ainda mais um país mais desigual, desorganizado e consequentemente ingovernável. É uma descentralização para que os ministérios tenham orçamentos sem défice, passando para a administração pública local os encargos financeiros, os quais não serão totalmente cobertos pelas transferências financeiras dos ministérios. A maioria absoluta vai ser uma forma de concluir a criminosa descentralização. Virá com a resposta que os portugueses votaram no seu programa eleitoral em constava este logro. Todavia, o António Costa nunca respeitou de facto a decisão dos portugueses relativamente à regionalização, chamando de uma descentralização àquilo que está a ser uma regionalização encapotada em que não segue uma matriz em benefício dos cidadãos mas sim para trabalhar os seus indicadores de falsa boa governação
Aflige-me este esquartejar de Portugal e parece que só alguns estão preocupados, logicamente que os sequazes seguem sem pestanejar as ordens.
A democracia precisa de defesa constante. Não pode ser um sistema de egos, o Parlamento, as instituições democráticas deviam ser mais incisivas na defesa das decisões dos cidadãos limitando o ego de cada chefe de Governo sob pena de se cometer muitos erros governativos que tornam um país inoperacional para que o Primeiro-Ministro alcance os sucessos políticos sacrificando o desenvolvimento de um país cada vez mais dividido por peças ligadas entre si com arames muito frágeis.
... Boa...
... Semana...
.... com este Abril de mil caras!
P&O na Planície: Bom Fim de Semana 118 = Os especialistas afirmavam que ela ficava temporariamente. Sorrateiramente instalou-se na despensa, à mesa, sentou-se no melhor lugar da sala para ver televisão, e nós? Resta-nos aceitá-la. Ela, a inflação, vai ficar por tempo indeterminado. O inflacionado Tio Celito infla-se: "Espiral da inflação. Marcelo espera que seja conjuntural". Também nós, também nós esperamos. O drama é que é o pobre já criou raízes de tanto esperar.
O António Costa é a inflação em pessoa. Contudo não se infla para a subida generalizada dos preços de bens e serviços que contribui para encolher o salário de xs para xxs. Não vos infleis com esta acusação pois é muito legítima dado que não actualizou o programa de governo que levou ao Parlamento para ser votado.
Não sei onde esteve o querido primeiro-ministro por não ter dado pela inflação. Ou será que pensaria que nestas últimas semanas, eu há meses que troco observações sobre a subida de preços, se falava de outra inflação? Na astronomia denominam de inflação a um hipotético fenómeno de pequeno período de expansão do Universo após o Big Bang. Inflou-se exacerbadamente com a conquista da maioria absoluta que começou a viver no mundo da Lua e a interessar-se por outros conceitos que os comuns cidadãos não se interessam, pois não têm vagar, por um lado e por outro têm de se recompor com os sucessivos sustos que levam quando olham para os preçários afixados nas prateleiras dos supermercados. Euzinha ainda estou a recuperar do susto que apanhei: o pão alentejano voltou a aumentar. Por 800 gramas de pão paguei 2,20€. É desta inflação que anda estacionar em todos os preçários afixados por todos os estabelecimentos comerciais de norte a sul que domina a conversa da "populaça", que pelos vistos é a mesma que contribuiu para que conseguisse amealhar votos para a sua carteira ficar cheia com a maioria absoluta. Esvaziou as carteiras dos outros para encher a sua. António Costa infla-se. E nós ficamos mirrados. O que é bom. O Verão está a chegar e precisamos que o biquíni do ano passado nos sirva, não vai haver pilim para comprar um novo com os padrões tendência do Verão 2022.
Não sei quem o chamou à Terra, deve ter sido a esposa atenciosa, é que agora não fala de outra coisa para ver se se "deslarga" da imagem de esquerda extremamente conservadora capaz de fazer acordos com o PCP e BE e retomar ao socialismo moderno europeu para piscar o olho à Europa: "António Costa promete combate ao aumento de preços na raiz"; "Costa repete à esquerda que “não embarca na ilusão” de aumentar salários para combater inflação."
Espera-se que tenham ecoado lá para os lados de Bruxelas e sejam inflacionadas estas palavras para que António Costa receba um convite para um cargo de grande destaque na U.E.
Na minha modéstia opinião era mais fácil Rui Rio juntar-se "à família europeia" do que um António Costa com a colecção de anos que tem enquanto primeiro-ministro de Portugal. Sabem porquê? A União Europeia foi desenhada para ser governada por pessoas provenientes da social democracia, que corresponde à nossa direita moderada. O António Costa para ser primeiro-ministro ligou-se à extrema-esquerda, logo não é bem visto para ocupar cargos de decisão. O sonho europeu vai ser isso mesmo: um sonho.
(Esta minha perspectiva carece de ser mais fundamentada para não levantar muitas dúvidas e celeumas. Por agora não tenho vagar. Prometo regressar ao tema.)
Já que a inflação estacionou em todos os parques de estacionamento, resta-nos ir comprar uma carteira mais pequena para guardar as moedas. Porque as notas essas, irão ser cada vez menos estendidas nas carteiras grandes. Por isso, uma carteira pequena chega e sobra.
Tempos ainda mais difíceis aproximam-se.
As quintas são as novas segundas.
Difíceis....
Só a música me salva, nem que seja por 5 minutos e 34 segundos.
O solo de Richie Sambora é o meu euromilhões.
Quer dizer que sou rica por cinco minutos muitas vezes nestes dias difíceis que parecem sempre segunda-feira.
Sou uma pessoa de adaptações: como descobrir a chave exacta do euromilhões é uma tarefa hercúlea, reinvento o conceito de euromilhões diariamente, hoje foi a música, amanhã pode ser estar a olhar o céu estrelado.
E vou sendo milionária assim. Zero milhões na conta bancária, mas com o espírito multimilionário.
"Permiti-me, homem mal formado, que pelas vossas maldades, vos possa maldizer."
Ricardo III
Vladimir Putin. A idade cronológica. Tinha de ser agora. Esta ofensiva bélica na Ucrânia não podia esperar mais. As cirúrgicas plásticas atrasam o envelhecimento na aparência física, porém não alteram a data de nascimento.
A idade biológica. Tem ar jovial, porém permanece o ano de nascimento inscrito no seu cartão de identificação, mesmo que seja adulterada, é impossível fugir ao desgaste cognitivo, ao "envelhecer" das células e dos elementos constituintes do corpo.
Reza a história que o antigo agente do KGB é o terceiro filho, quando nasceu os seus dois irmãos mais velhos já tinham falecido, à custa de ter sempre vivido como se fosse um agente infiltrado, com os movimentos mais do que planeados com uma supervisão e mediadas de protecção muito profissionais, eliminando cirurgicamente quem pode fazer-lhe sombra ou ser um obstáculo para o êxito dos seus objectivos, chegou aos 69 anos são e salvo.
Até quando? É um prazo difícil de prever. Há quatro opções: (1) é afastado pelo grupo que o suporta. A questão é que os oligarcas devem muito a Putin, foi este que os ajudou a manter e a criar novos multimilionários. E Putin já começou a fazer as suas cobranças, obviamente; (2) À semelhança do que aconteceu a outros tiranos, será montada uma operação de mandado de captura que acabará com o seu "reinado"; (3) Escolher a solução de Hitler, que não acredito; (4) Ficar tudo na mesma: Putin permanece a liderar os destinos da Rússia, seria mais uma guerra em que esteve envolvido e nada de substancialmente punitivo lhe aconteceria.
São várias as personalidades que Vladimir Putin adoptou ao longo dos seus vinte e dois anos de governação. A sua arma sem gatilho foi o Petróleo. Regenerou um país parado com as políticas de Yeltsin, por isso o Petróleo foi muito importante para a melhoria dos seus índices económicos e financeiros para investir não na melhoria de vida dos russos no geral, mas dos grupos de pessoas de sua confiança e úteis para a sua causa e para investir na sua capacidade militar.
A Alemanha foi no jogo e ficou refém do gás natural e do petróleo proveniente da Rússia. O motor da U.E. depende cegamente de Putin. Esta notícia é muito esclarecedora da dependência: "A Alemanha irá enfrentar uma grande recessão, caso haja interrupção das importações de gás e petróleo da Rússia. O aviso é feito pelo Deutsche Bank." O gasoduto Nord Stream I foi uma vitória importante para as ambições de Putin para controlar e fazer depender de si. O antigo Chanceler Schröder teve a devida recompensa pelo estreitamente dos laços entre a Rússia e a Alemanha. A Angel Merkel também confiou no desconhecido e o investimento para o segundo gasoduto ligado às torneiras russas tornou-se uma realidade, apesar de terem cancelado a certificação do Nord Stream II, mais tarde ou mais cedo será retomado o procedimento, uma vez que o investimento alemão foi grande.
Nestes tais vinte anos, a Rússia de Vladimir Putin participou em sete guerras, ei-las: Chechénia (1999); Geórgia (2008); Crimeia (2014); Síria (2015); Azerbaijão e Arménia (2020); Cazaquistão (2022); Ucrânia (2022).
A hipocrisia reinante é o grande mal das nossas sociedades. Quando havia inúmeras viagens de negócios ou grupos de empresários inseridos em visitas oficiais de chefes de Estado rumo à Rússia nada era duvidoso no comportamento e nas atitudes de Vladimir Putin. A comunidade internacional condenava baixinho os sucessivos casos de opressão a todos aqueles que têm opinião contrária, resolvendo quase sempre com prisões inexplicáveis ou com a ajuda para "o eterno descanso".
A Rússia de Putin sempre foi aceite como uma democracia alternativa, se é que isso existe, uma democracia à maneira deles. É um facto que os russos nunca seguiram ideais, sempre seguiram líderes. A história do povo russo está marcada por longos períodos de tempo governados à vez com diferentes ideologias tendo apenas em comum o facto de serem uns prepotentes líderes carismáticos que proporcionaram àquelas gentes um controlo total no modo de pensar e padronizando o viver em sociedade. É um povo que sempre tolerou a tirania durante estes séculos. É o modo muito russo de viver. Têm poucas liberdades de escolha e opinião e não pretendem ser salvos deste modo de viver resignado. Há uns anos numa situação que não vem ao caso, alguém confidenciou-me que para nós europeus que vivemos (e nascemos na democracia, mesmo com defeitos é uma democracia) as pessoas que vivem oprimidas por regimes controladores, perante a opção de escolha entre a liberdade e o pão, escolhem sempre o pão. Temos de saber respeitar. Porém, quando este "modo de viver" quer ditar regras, a tolerância acaba radicalmente para pessoas que vivem num Estado de direito.
Foi preciso chegar a 2022 para começar o "disparo" de adjectivos a (des)qualificar um homem que sempre foi este que agora dizem que é: desrespeitador, ditador, tirano, vil, calculista, manipulador, cínico, mentiroso, narcisista, é tudo isto e muito mais.
Vladimir Putin é um profissional da propaganda, nada foi e é ao acaso: sabe o que diz, como diz ou como se apresenta. Mais, acha que sabe tudo e sempre teve a convicção que iria moldar a realidade para a enquadrar na teoria fabricada. Exemplo disto é a dissertação que escreveu (escreveram?!) sobre a Ucrânia nunca ter existido enquanto país independente e da forma depreciativa como apelida os ucranianos: "os russos pequenos." O lema é: inferiorizar para subjugar.
É complicado perceber e traçar um perfil psicológico de uma pessoa com os traços psicológicos de alguém como Vladimir Putin. Não sei os traumas que assombram a sua mente, todavia é inegável que é um ser implacável. Sendo certo que quanto mais implacável se é maiores são os seus "demónios interiores". Pessoas assim, são perigosas pois não olham a meios para atingir os fins.
Vladimir Putin é o sofista grego Cálicles do século XXI. As ideias políticas deste sofista baseavam-se na defesa da tirania. Defendia que a essência do homem está na procura do poder e do prazer, ou seja, que o homem só está totalmente realizado quando consegue o máximo de poder e prazer, denominado, segundo Cálicles de tirano. Sendo que o regime mais em conformidade com a condição humana é a tirania, a desigualdade. Em síntese, este sofista acreditava que todo e qualquer homem é um tirano em potência. Contudo "uns são fortes, conseguem realizar a sua natureza; outros, a grande massa dos fracos inventam leis, valores e costumes democráticos e igualitários para tentar convencer os fortes de que todos são iguais e que as desigualdades são injustas.
Não deixa de ter alguma razão. É preciso é fazer a leitura antecipada para se tomar medidas para afastar estes Cálicles do poder. Não se trata de ingerência, mas quando praticam atrocidades contra a humanidade em solo alheio que influênciam a estrutura organizativa e o bem-estar de outros países que não têm outro remédio que é abrir os braços para quem quer viver e quer fugir da morte imposta por alguém ou por aqueles que estão sentados nos cadeirões do poder que assinam mortes de civis inocentes por decreto.
A política não vive de "ses", mas se os tribunais internacionais, as Nações Unidas tivessem funcionado aquando da participação da Rússia na guerra civil da Síria, isto é, tivesse sido formalizado as queixas por crimes de guerra pela destruição maciça, pelo massacre de pessoas que o exército russo a mando de Putin praticou em Alepo, se calhar hoje a invasão da Ucrânia não teria acontecido.
São suposições. São os tais "ses".
O que é verdade é que ficou por julgar os crimes na guerra civil Síria e fazer-se justiça pelo povo sírio.
Se ontem já era tarde, hoje é tardíssimo. Porém, eu acho que ainda vamos a tempo de se fazer justiça nos locais próprios que são os tribunais.
Desta feita, Vladimir Putin teria os dias contados no Kremlin.
--------- Ainda pode ler:
Os actores do ontem que são a influência do hoje