"[...] e depois o meu pai que galopa na vila a interrogar postigos [...]"
António Lobo Antunes, O Arquipélago da Insónia
"O seu destino era um restaurante, não tanto por ter fome ou sede, mas pela necessidade de estar sentado num lugar público e de ser um pouco servido; [...]"
Peter Handke, A tarde de um escritor
A partir de ontem não há venda ao postigo de bebidas, bolos ou vestuário. É hilariante o Governo de um país decretar a proibição da venda de café, cerveja, copinho de vinho ao postigo. Se a maioria dos portugueses fossem evoluídos cognitiva e intelectualmente não encontravam formas de obter e satisfazer o seu vício ludibriando a medida decretada de fechar cafés, tabernas, quiosques, por exemplo! Se não tivessem procura os cafés não estariam com a porta aberta ou melhor o postigo escancarado. Raro é o dia em que não vejo bebedores viciados na droga legal e socialmente aceite. Os cafés de "pipis" e caracóis tornaram-se num abrir e fechar de olhos em locais de take away para que o postigo estivesse ao serviço dos que não podem viver sem o café ou o bagaço.
Não leram já publicidade no facebook do género: "O café da Esquina AB vai começar a funcionar em serviço de Take Away: tem tostas mistas, sandes de moelas e bifanas".
[Sou só eu a pensar que existem cafés a mais em Portugal? Uma pequena cidade alentejana com cinco mil e pouco habitantes, onde o poder de compra é baixo, o número de cafés pode chegar a mais de duas dezenas. É mesmo rentável? É um mistério para mim, aqui me confesso.]
Bem sei que a falta aguça o engenho, porém há coisas que não lembra nem ao diabo. Evidentemente que é para justificar às autoridades as filas ao "postigo" para comprar o café ou a cerveja, sabendo que há muito tempo que está proibido beber bebidas alcoólicas na rua, ainda estou para perceber a dificuldade dos portugueses entenderem esta proibição. Que necessidade têm desta parvoíce. Só gostam de ser servidos, não sabem tirar um café naquelas máquinas de cápsulas iguais à do George Clooney que se compram numa loja qualquer de eletrodomésticos?
Que pasmem-se dá para ter em casa e não morde. Acham que vão partir um dedo ao colocar a cápsula no orifício e clicar no botão et voilá começa a jorrar café do bom? Não, queridos e queridas não vos acontece nada, podem não acreditar mas juro-vos que tenho os meus dez dedinhos das mãos perfeitinhos, não falta nenhum.
Com os supermercados abertos não há motivo para não se embebedarem em casa ou encharcarem-se em cafeína. Se não podem viver sem as suas adicções nas pausas deixo-vos um conselho: comprem os pacotes de vinho de 250 ml para uso culinário, aqueles que os alcoólicos costumam comprar no supermercado para tentarem enganar a família e afirmarem que andam sóbrios? Pois são esses pacotinhos e aproveitem comprem uma palhinha de bambu, obviamente pois temos de ajudar a Greta com as suas teorias que até tem algum lógica, é pena ter desistido de estudar. Não se esqueçam da palhinha, reforço o aviso, para saborear e sugar até à última gotinha, uma vez que não estamos a atravessar uma boa fase para praticar o desperdício.
O postigo já foi!
Nos próximos dias estarão na mira as portas entreabertas, já vi tantas! Espera-se uma actualização ao decreto-lei dos postigos para incluir a proibição das portas entreabertas dos cafés e similares.
Haja paciência para a insurreição estúpida!