O Mário Centeno e o Calisto Elói têm mais em comum do que se imagina. Ora vejamos: o Mário Centeno caiu na rede do deslumbramento ao pedir convites para ir ao Estádio da Luz assistir a um jogo do SL Benfica com o filho; O Calisto Elói, personagem principal n' A Queda de um Anjo de Camilo Castelo Branco, aceitou ser deputado mudou-se para Lisboa e de "alma tão portuguesa", "exemplar marido", "sacerdote e glorificador dos clássicos lusitanos", passou "em menos de três meses, o modelo do português dos bons tempos se baralhasse com os usos modernos e viciosos". O Calisto Elói deslumbrou-se quando se apaixonou pela Fidalga Ifigénia e começou a assimilar o ócio da vida lisboeta decidiu mudar o visual, abandonar os trajes da província para fatos de galã citadino, guardar os óculos de prata para usar luneta de oiro e molas e render-se ao charuto (adquirindo uma charuteira de prata).
O Mário Centeno antes de ser governante quantas vezes iria assistir aos jogos do SL Benfica na companhia do filho? Uma, duas vezes... Palpita-me que nunca terá ido antes de ser governante ao Estádio da Luz. Conseguiu tornar-se presidente do Eurogrupo graças à sua boa (?) governança enquanto ministro das finanças de Portugal. Assim, como dirige superiormente o Ministério das Finanças, exerceu a sua autoridade e fez-se à vida pedindo os ditos convites ao Benfica, para fazer um brilharete lá por casa. Felizmente, que o deslumbramento se ficou pelos convites para ter uma cadeira para se sentar e assistir ao desacerto da dupla dos defesas centrais do Benfica, pois podia ter exigido um flute de vinho espumante Murganheira para si e que idade tem o filho? Uma taça de morangos com chantilly, não vá o rapaz ser alérgico às pipocas! O Ministério Público arquivou o caso dos bilhetes, verificou que foi um deslumbramento saloio, oops um deslumbramento de borla – bilhetes que correspondem a lugares que não são atribuídos preço, específicos para oferta – em que não lesou pecuniariamente nenhum português continental e insular.
"Deixá-lo ser feliz: deixá-lo. Calisto Elói, aquele santo homem lá das serras, o anjo do fragmento paradisíaco do Portugal velho, caiu. Caiu o anjo, e ficou simplesmente o homem, o homem como quase todos os outros (...)" Esta observação feita ao deputado Calisto Elói pode muito bem ser aplicada ao nosso querido deslumbrado Mário Centeno: " deixá-lo ser feliz... "!!