Constança caiu e Costa ficou...
"(...) _ Não acha que os eucaliptos são árvores perigosas? (...)"
Caminho como uma casa em chamas, António Lobo Antunes
Quando tudo ardeu dramaticamente em Portugal por duas vezes: pessoas, animais, casas, florestas, culminou numa única baixa ministerial. O Primeiro-Ministro António Costa aquando da primeira tragédia, em Pedrogão Grande, repetiu várias vezes que uma tragédia com 65 pessoas ceifadas pelos incêndios florestais não poderia voltar a acontecer com esta mortandade. A maioria dos portugueses deu-lhe o benefício da dúvida. Mais do que pedir desculpas,
pensaria-se que tudo estaria melhor coordenado, liderado na Autoridade Nacional da Protecção Civil, com as tais licenciaturas da farinha amparo, mas o que interessava para já era a experiência na área da protecção civil, que aparentemente possuíam, o resto se viria depois na época dos fogos florestais. O medo de outra tragédia devia ter sido o móbil para levar a uma melhor liderança, a uma maior coordenação e principalmente o aprimorar da capacidade de avaliar, de decidir os meios correctos para o combate efectivo do incêndio florestal. Mas não, voltou acontecer outra tragédia igual. Nestes quatro meses que intervalaram as duas tragédias esteve tudo parado à espera dos relatórios com as causas e recomendações. Entretanto, voltou o pesadelo da mãe, pai, filho, filha, tia, avó, avô, netos, sobrinhos a salvar as casas, a preservar os sustentos de uma família, a fugir pelas estradas completamente dominadas pelo fumo, pelas chamas. Muitos não conseguiram salvar nada, nem a própria vida, outros foram apanhados nas estradas e que nem da região eram, mas sucumbiram e deixaram o lugar vago à mesa em muitas casas de família. E aqueles que se salvaram na estrada que tardiamente foi fechada permanecerá a ansiedade, o receio dos momentos difíceis vividos e quando ouvirem que há incêndios e terão que se fazer à estrada, o trauma será vivido outra vez e a família estará sempre com o coração nas mãos enquanto não chegar ao destino final o seu familiar são e salvo. E aqueles que não passaram por esta aflição nas estradas, pensarão que na próxima vez poderá ser eu ou alguém próximo. O Primeiro-Ministro António Costa à espera dos relatórios e o dia quinze de Outubro a ficar marcado, até que haja memória, como o dia em que tudo ardeu violentamente mais uma vez: vidas, património, projectos, sonhos... Como na primeira vez o Primeiro-Ministro António Costa não perdeu nem família e nem bens, mas devia perceber que é responsável e culpado pela maior área geográfica ardida de Portugal e pelo maior número de mortes com origem em fogos florestais. A demissão não está no seu horizonte pois assume a sua responsabilidade, mas não assume a sua culpabilidade. E como hábil que é, sabe muitíssimo bem que responsabilidade não é necessariamente sinónimo de culpabilidade. No debate quinzenal (dezoito de Outubro de 2017), o Primeiro-Ministro António Costa diz que tem peso na consciência das fatalidades que tem acumulado enquanto político, no entanto, andou estes quatro meses em campanha eleitoral para as autárquicas e principalmente a medir o pulsar da sua governação junto dos portugueses e entretanto a segunda tragédia dos fogos florestais surgiu. E agora? A demissão da Ministra Constança Urbano de Sousa é insuficiente. O António Guterres por muito menos pediu a demissão do cargo de primeiro-ministro! O Primeiro-Ministro António Costa teve uma segunda oportunidade e esgotou-a com indolência. Em vez de governar, ou seja, aproveitando a sua experiência como ministro do Mai podia com a sua ainda ministra Constância Urbano de Sousa e restantes membros do governo ter implementado medidas preliminares como: agravamento de penas para os incendiários, sessões de sensibilização à população para os perigos das queimadas, instruir a Estradas de Portugal para limpar e arrancar as árvores nas bermas das estradas, em vez disto mandou fazer uma sondagem para aferir se o seu índice de popularidade tinha sido afectado e depois andou a percorrer o país a participar intensamente na campanha autárquica com os seus discursos de fogo de artifício. Estas medidas preliminares podiam e não evitariam, certamente, a grande dimensão desta segunda tragédia, mas tinha tomado medidas e não se desculpava com o não fazer nada para não enfraquecer o trabalho da comissão parlamentar formada para apresentar as causas e as soluções para a tragédia de Pedrogão Grande. Não podemos esquecer que o Primeiro-Ministro António Costa é culpado pelas nomeações dos comandantes na protecção civil, a ministra Constança Urbano de Sousa nitidamente recebia as suas ordens, pela desastrosa planificação da prevenção e combate aos fogos florestais. Pelo seu passado de ministro, pelo seu presente de chefe do actual governo de Portugal nunca soube e não sabe governar como se caminhasse como uma casa em chamas*. Pessoalmente, não confio neste Primeiro-Ministro António Costa, no seu governo e nas suas nomeações para todos os organismos públicos; faz sentido recuperar as palavras do poeta Sá Miranda:"tudo soberba e força, faz, desfaz,/sem respeito nenhum (...)" para caracterizar o desempenho do político António Costa e que não consegue ter o bom senso de pedir a demissão. Prevê-se uma nova vaga de calor anormal para esta época outonal, e perante as recentes tragédias, tenuemente acredito que não voltará a repetir-se a fatalidade de tantas pessoas morrerem queimadas pelas chamas assassinas dos incêndios florestais.
Termino com uma questão que nenhuma relevância tem para a estirpe que nos desgoverna: quais são as razões de Portugal ter dez vezes mais ignições/combustões florestais face aos outros países da União Europeia?
* adaptado do título original do romance do escritor António Lobo Antunes, Caminho como uma casa em chamas.